O voluntariado ocorre em todas as sociedades do mundo. Os termos que o definem e as formas de sua expressão podem variar em diferentes línguas e culturas, mas existem valores que são comuns e universais: o desejo de contribuir para o bem comum, por livre arbítrio e em espírito de solidariedade, sem expectativa de recompensa material.” Esse trecho faz parte do State of the World’s Volunteerism Report — Universal Values for Global Well-being (Relatório Estado do Voluntariado Mundial — Valores Universais para o Bem-Estar Global), publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011, e aponta para os valores comuns, justiça, igualdade e liberdade, expressos na Carta da ONU — da qual o Brasil é membro fundador e signatário desde 24 de outubro de 1945.
Quando se promove e se apoia o voluntariado em suas diferentes formas de atuação, temos uma sociedade que busca e promove o bem-estar de todos os seus cidadãos. Ao ser proclamado o Ano Internacional do Voluntário, o mundo todo reconheceu e celebrou a contribuição e a participação dos voluntários. E desde essa data, 2001, a maioria das pesquisas e dos estudos atesta a universalidade do voluntariado, a amplitude de seu engajamento e o poder de seu impacto na sociedade. Existe uma ética de voluntariado em cada comunidade no mundo, e as pesquisas realizadas agregam muito conhecimento para nossa compreensão desse fenômeno mundial.
A série histórica de pesquisas sobre o voluntariado no Brasil acompanha essa agenda da ONU e mostra não só a força, mas também o crescimento do número de voluntários. Em sua terceira edição (2021), os achados indicam resultados positivos: 56% da população adulta diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Em 2001, esse número representava 18% da população e, em 2011, 25%. Além do aumento do número de pessoas mobilizadas, o voluntariado está na estratégia das empresas, e os programas de voluntariado empresariais são destaque no engajamento, na relação com as agendas globais e, ainda, no desenvolvimento de talentos e habilidades.
Em 2021 foi publicado pela ONU o novo relatório, Construindo Sociedades Iguais e Inclusivas. Mais uma vez, ele reforça o quanto o voluntariado é relevante e, globalmente, continua a ser estratégia importante para promover o desenvolvimento sustentável e contribuir para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), principalmente neste momento, em que os países enfrentam enormes desafios com fatores relacionados às mudanças climáticas, pandemias, guerras, crises políticas, entre outros. Fica muito claro que parceria e cooperação entre pessoas e organizações são de vital importância, apesar de isso ainda não ter sido alcançado em toda a sua magnitude!
Por isso, o voluntariado nas organizações é uma oportunidade! E deve ir muito além de ações pontuais e tarefas; precisa refletir a cultura organizacional, seu propósito e valores, compor a intencionalidade da estratégia, por meio da análise de riscos e soluções. Nessa perspectiva, a porta de entrada é a governança. O lugar de visão de longo prazo, o locus da estratégia que cuida da sustentabilidade e principalmente dos stakeholders.
As partes interessadas representam o ponto de partida e de chegada de uma organização, e o voluntariado tem o potencial de criar laços de confiança, desenvolver habilidades e talentos, transformar realidades em sua diversidade e múltiplas formas de ação. É uma força poderosa de solidariedade, generosidade e progresso. Traz a humanização para as relações, que devem passar de transacionais para transformacionais, criando assim o valor compartilhado, do qual todas as partes envolvidas podem se beneficiar.
A transversalidade e a complexidade que envolvem o alinhamento do voluntariado empresarial à estratégia do negócio dialogam diretamente com as Agendas 2030 — representadas por 17 ODS interconectados, que apresentam 169 metas. Suas temáticas abrangem desde o desenvolvimento econômico, a erradicação da pobreza, da miséria e da fome, a inclusão social, a sustentabilidade ambiental, a governança, até a paz e a segurança, e Environmental, Social e Governance (ESG), sigla em inglês que significa “ambiental, social e governança”.
A primeira agenda é norteadora dos compromissos globais que são adequados à realidade local, e a segunda é responsável por evidenciar e associar os ODS ao negócio e demais princípios, normas, compliance e ética.
É nesse contexto que um programa de voluntariado perene e com indicadores consistentes pode compor ações com diferentes áreas, como pessoas, responsabilidade social ou sustentabilidade. As ações dependerão de fatores internos como definição de materialidade, resultado esperado, perfil das pessoas, engajamento, mobilização, recurso financeiro, entre outros. Isso além dos fatores externos: oferta e demanda, relação de confiança, interesse das partes interessadas, entre outros.
O mais importante nessa equação é respeitar a cultura organizacional, a disponibilidade da força de trabalho, as necessidades das comunidades/pessoas, criar espaços, como comitês, para reflexões, formações, comunicação, monitoramento e avaliação, e aí sim desenvolver um plano de ação com métricas consistentes para que as práticas sejam efetivas e contribuam para os resultados do negócio, os interesses dos stakeholders e o fortalecimento da cidadania.