As diversas faces do ativismo social
A tivar é um verbo que pode definir tanto uma ação individual quanto vislumbrar a possibilidade de uma ação coletiva. Ou muitas. Este conjunto de ações coletivas, realizadas por muitas pessoas, dão significado para o sentido do Ativismo.
Já o Social envolve uma porção de variáveis que compõem a sociedade e seus mecanismos de convivência. Citando algumas que merecem reflexão à parte: Comunidade (comum unidade); Famílias contemporâneas e suas diversificadas formas, com arranjos e definições de papéis singulares (família vivida); Setores de serviços públicos, privados e da sociedade civil organizada ou não e suas interligações; Leis que garantem direitos individuais e coletivos, que definem o grau de desenvolvimento desta sociedade na arte de viver em conjunto.
Portanto este é o caldo cultural e social onde o ativismo social se instala para novas conquistas e demandas.
Nesta colcha de retalhos, da qual retiramos um recorte, encontramos o “ativista social”. Como defini-lo? Quem é esta figura?
Você é um ativista social? Já parou para pensar sobre o assunto?
Pessoalmente, sempre entendi o ativista social como a pessoa idealista que, lutando por uma Causa (Criança, Adolescente, Contra a Violência etc), destacava-se da maioria das pessoas e, líder por natureza, abria caminho para os avanços sociais, legitimando a ação de uma prática individual para coletiva, inspirando as pessoas mais pelo exemplo do que pelas palavras.
Atualmente, com o meu “leque” do olhar mais ampliado, vejo o ativista social não apenas com o descrito acima, mas também em outras categorias do existir em sociedade.
- O ativista social inspirador, que luta por uma causa, tornando-a o motivo de sua vida. Pode ou não estar ligado a uma ideologia, credo ou grupo político. A causa que o move é anterior a tudo.
- O ativista social técnico e visionário que tem, na sua escolha e prática profissional a possibilidade de conhecer realidades diversificadas, aprofundar seu olhar, seja por uma causa ou pela visão de conjunto, tornando-se uma referência onde atua. Costuma ter conhecimentos técnicos e vivências práticas que se complementam para ações raciocinadas e com vistas ao desenvolvimento de políticas públicas. Tende a valorizar o saber acadêmico aliado à prática profissional.
- O ativista social agregador que atua no seu cotidiano, não importa qual a sua profissão ou amplitude de ação, funciona como elemento de união e integração no grupo. Pode ser um fazer mais solitário e invisível ao que é convencional, mas costuma ser a alma ou a vida daquele local onde atua. Devem existir aos milhares, como trabalhadores em diversas áreas, sendo especiais nas suas comunidades, famílias e serviços de assistência.
Vale ressaltar que estas categorias são meramente organizadoras, não são excludentes, e sim complementares e flexíveis.
Características
- Das características destes ativistas, algumas são comumente encontradas:
- São lideranças inatas – o líder que se sobressai no grupo como mais um elemento dele, não acima dos demais, garantindo liderança saudável.
- São visionários – pessoas com capacidade de prever resultados futuros em ações isoladas e/ou planejadas.
- São confiantes – tem a capacidade de influenciar as pessoas positivamente.
- Não têm medo de errar – assumir e corrigir seus erros e tocar em frente.
- São resilientes – costumam tornar as dificuldades em desafios e oportunidades de crescimento.
- São solidários – tendem a estar junto com o grupo, assumindo a sua parte.
- São abertos para críticas – para o diálogo e novas ideias e soluções.
- Usam a intuição a seu favor – creem mais em Espiritualidade do quem em uma religião específica, aceitando as crenças alheias.
- Trabalham mais pensando nos pontos de união – em lugar de se ater aos pontos de conflito ou separação.
- São eternos aprendizes.
Riscos
Porém, sendo humanos podem, ao longo do tempo:
- Ser colocados em pedestais – “acima do bem e do mal”, tanto pelos demais quanto por si mesmos, gostar desta posição, passando a inverter valores e transformar suas caraterísticas positivas em posturas cristalizadas e imunes a críticas. Passam de líderes a pessoas que têm “seguidores”, detentoras da Verdade Absoluta.
- Criar, mesmo que de forma inconsciente, mecanismos de dependência e manipulação. Sentem-se como insubstituíveis e que as pessoas são incapazes e não têm poder de decisão.
- Radicalizar na defesa de uma causa, perdendo o foco da análise crítica e reflexiva que os processos de mudança trazem, não aceitando novos caminhos.
- Tentar impedir a inclusão de novas lideranças numa competição doentia, dificultando o relacionamento intergeracional.
- Reproduzir modelos de subjugação e de injustiças entre seus pares ou assistidos, muitas vezes nas próprias instituições onde militam e, de uma forma paradoxal, usando modelos que criticaram.
- Adoecer física e mentalmente e ficar na negação de si próprio.
- Não conseguir se desprender da figura reconhecida como Ativista Social e viver plenamente sua individualidade.
A Via Saudável
Quando o ativismo social vai por uma via saudável, o ativista tende a se realizar individualmente e ajuda a preparar sua própria sucessão, deixando legados que costumam servir de rituais de agregação e desencadeiam, onde estiverem, modelos de superação e resiliência para ações futuras, mesmo quando não estiverem mais presentes.
Em vez de insubstituíveis são inesquecíveis, no sentido positivo. Tornam rica a história oral e escrita daquele momento. Criam novos repertórios e lembranças que servem de legado às novas gerações.
Sejam inspiradores, visionários agregadores, entre tantas categorias não citadas aqui, todos têm uma função única e essencial para a transformação da nossa sociedade com mais plenitude.
E você, se vê como um ativista social?