Um parque de cidadania

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Novembro 2002 - 00h00
Localizar o Parque da Água Branca não é tarefa difícil. Esse espaço de natureza fica em uma região permeada de prédios, empresas e residências da Zona Oeste de São Paulo, bem próximo à região central da maior metrópole da América Latina.

Um pouco de história

Esse espaço já foi palco, no início do século 20, da Escola Prática de Pomologia e Agricultura, que tinha como missão ensinar a teoria e a prática dos processos científicos no cultivo de árvores frutíferas e legumes. Essa escola teve vida breve, sendo desativada no início de 1911. Porém, o espaço continuava lá, óbvia opção de lazer e contato com a natureza para os cidadãos paulistanos.

Durante muito tempo, após a desativação da escola, o parque foi utilizado como um viveiro de plantas da prefeitura, dividindo espaço com outras benfeitorias: armazéns, depósitos, estábulos, sobrado para moradia e até mesmo água canalizada, proveniente de fontes próprias. Um grande recurso público praticamente abandonado e ocioso.

A reação organizada da sociedade civil tardou, mas enfim chegou. Indignados com a degradante situação do parque - sujeira, assaltos e abandono -, um grupo de freqüentadores formou, em 1981, a Associação de Ambientalistas e Amigos do Parque da Água Branca, a Assamapab, hoje legalmente apresentada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).

As batalhas pela consolidação do Água Branca como um dos mais importantes pólos de lazer, cultura e interação com a natureza dos paulistanos foram árduas, mas premiadas com conquistas. Uma delas, certamente muito importante, foi alcançada em 25 de março de 1983, com o início do processo de tombamento do parque, que acabou consolidado no dia 3 de junho de 1996.

Essa conquista foi fundamental para a preservação da área verde, com a manutenção de suas características. O tombamento coincidiu com a implantação do Projeto de Revitalização, iniciado em 1995, sob a coordenação da paisagista Bárbara Uccello. A equipe, totalmente voluntária, foi formada por agrônomos, botânicos, arquitetos, veterinários e especialistas de várias áreas, que assumiram o desafio de executar obras de melhoria em vários setores, desde saneamento até mapeamento botânico.

Preocupação com a ecologia

Ao conhecer a sede da organização, uma pequena casa de madeira encravada no meio do parque, percebe-se a preocupação responsável com a ecologia, com ações que extrapolam os limites do parque, objetivando a formação de amantes da natureza, potenciais multiplicadores da importância do respeito ao meio ambiente. Para tanto, a associação mantém uma série de atividades, alicerçadas no trabalho voluntário: 15 fixos e dezenas incorporados às atividades esporádicas.

A viabilidade financeira é alcançada com ajuda de fontes variadas, medida prudente e necessária para atingir, sem sustos constantes, os objetivos sociais. Os recursos, portanto, vêm da contribuição de aproximadamente 400 sócios e da prestação de serviços de consultoria ambiental à empresas e prefeituras, além do desenvolvimento de parcerias estáveis envolvendo as necessidades e potencialidades do parque e seus freqüentadores.

Para ilustrar a estratégia de parcerias da Assamapab, faz-se necessário apresentar algumas de suas iniciativas. Fica claro que o conceito de parcerias sinérgicas chegou e ficou nesta organização, tornando possível a superação de obstáculos e o alcance de metas estipuladas.

Os grupos de trabalhos ou GTs, como são denominados, são divididos em iniciativas pontuais, mas relacionadas entre si. O Centro de Referência Ambiental, por exemplo, tem como atividades receber escolas do município - aproximadamente 180 alunos por semana - para visitas temáticas, nas quais são abordadas questões relacionadas à coleta seletiva de lixo, importância e valorização da água e história do parque, entre outros temas.

Além da educação com as visitas, o Centro de Referência tem uma parceria com o Capacitação Solidária, que possibilita a formação de jovens na função de monitores ambientais. O resultado dessa ação? Em dezembro de 2002 serão formados os primeiros 30 jovens monitores, após cinco meses de curso gratuito. A estratégia para evitar a evasão mistura qualidade no ensino à concessão de bolsas-auxilio, alimentação e vale-transporte. A grade curricular é composta por matérias específicas sobre ecologia, além de oportunas aulas de cidadania. Após a formatura, os jovens são encaminhados para empresas e outros parques da cidade.

Um outro grupo de trabalho, considerado o mais importante da organização, é o relacionado à defesa da área verde do parque. Os voluntários dessa iniciativa, grande parte formada por profissionais ligados às questões do meio ambiente, acompanham as árvores do parque, bem como seu desenvolvimento ou problemas que possam apresentar. Esse trabalho garante a preservação das espécies presentes, mantendo as suas características nativas e possibilitando o estudo aprofundado.

Lixo rentável

Outra iniciativa incansável pela conservação do local é o trabalho de Coleta Seletiva, atividade social especialmente bem-sucedida. No último ano, foram 91 toneladas coletadas e R$ 12.091,85 arrecadados, verba inteiramente revertida para a equipe de coleta, responsável pela separação e preparo desse material para comercialização. Esse grupo é formado por quatro ex-desempregados selecionados pela associação, que hoje resgataram minimamente sua cidadania e sobrevivem desta atividade.

Vale ressaltar a efetividade dessa ação, que convida o cidadão a praticar a coleta seletiva e a posterior entrega no parque, além de garantir o sustento honesto de trabalhadores anteriormente excluídos. Ação nas duas pontas: garantia de sustentação e continuidade.

Os demais grupos de trabalho ficam responsáveis por iniciativas como a Posse Responsável, que realiza trimestralmente uma feira, na qual os freqüentadores do parque são convidados a adotar filhotes de animais de estimação que foram abandonados pelas ruas da cidade. Já o grupo de Pássaros Livres possui uma parceria com o Centro de Estudos Ornitológicos da USP, proporcionando um espaço onde voluntários podem alimentar as aves, além de observarem seu comportamento e movimentos migratórios.

A Assamapab valoriza e investe na comunicação com os visitantes do parque, estimulando o sentimento de propriedade coletiva e interação. O jornal da associação, com tiragem de dez mil exemplares, divulga informações relacionadas às atividades do parque, além de realizar entrevistas com especialistas em questões ambientais.

A interação é proporcionada pelo grupo de atendimento aos freqüentadores, que mantém regularmente aulas abertas e gratuitas, ministradas por voluntários, com mais de 50 participantes em cada atividade. Entre outras, relacionamos: Tai-chi-chuan, Dança do Dragão, Iogaterapia, Lian Gong, Exercício e Coração, Danças Circulares Sagradas, Ginástica Harmônica, Oficinas de Arte-Ecologia para Terceira Idade.

As iniciativas da Assamapab e seus resultados são provas de que a união de pessoas com objetivos comuns, visando o bem-estar da coletividade e administrando com profissionalismo o espaço público, podem mudar o destino de um presente da natureza. Felizmente a história dá voltas e hoje o Parque da Água Branca, elevado à condição de referência para a população paulistana, recebe aproximadamente 120 mil visitantes por mês.

NÚMEROS DA ASSOCIAÇÃO E DO PARQUE

91 toneladas - Quantidade de material reciclável coletado em 2002

120 mil - Número mensal de visitantes

180 por semana - Número de estudantes visitantes

30 por semestre - Número de jovens monitores formados

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