Nos meus últimos textos na Revista Filantropia, tenho abordado a governança das organizações da sociedade civil – as associações e fundações. Neste artigo vou seguir desenvolvendo o tema, dessa vez abordando a importância do desenvolvimento de uma cultura filantrópica no Conselho – o que vai contribuir para o sucesso da captação de recursos.
Inicialmente, definimos o conceito de governança como o "sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo o relacionamento entre Conselho, equipe executiva e demais órgãos de controle"1.
Também estudamos o Conselho de Administração, órgão colegiado que detém as atribuições que não são exclusivas das assembleias gerais, sendo formado para garantir uma instância de deliberação interna que não dependa da Assembleia, permitindo às organizações terem agilidade na tomada de decisões estratégicas.
E na última edição da Revista Filantropia apresentei as responsabilidades dos Conselheiros, das quais destaco a seguir aquelas que são diretamente ligadas à captação de recursos:
O Conselho de Administração, e é importante reforçar isso, não deve ter função executiva na organização. O dia-a-dia é para a equipe, para o diretor executivo, para os gerentes, para os analistas. O Conselho de Administração delibera e define as estratégias principais, e a equipe faz acontecer – inclusive a equipe de captação de recursos.
Mas, e talvez por isso mesmo, é que o Conselho é fundamental para a captação de recursos. Uma organização que não tem um Conselho comprometido com as receitas da instituição, terá sérios problemas para a sua sustentabilidade financeira. Nesses casos, é o futuro da própria organização que estará comprometido.
Por isso que é fundamental a construção de uma cultura filantrópica dentro da organização, e ela deve vir a partir do próprio Conselho de Administração.
Em uma cultura filantrópica, a filantropia é abraçada pela organização como um valor: a organização existe pela causa, e o desenvolvimento de uma cultura de filantropia é uma prioridade institucional. O desenvolvimento filantrópico é uma função permanente e é parte do plano estratégico da organização. Internamente, toda a organização entende que a filantropia é essencial para ela.
E é por isso também que, dentro da organização, todo mundo ajuda a identificar novos membros, alianças e potenciais doadores. E, no próprio Conselho de Administração, todos fazem doações anuais para a organização.
Se não há cultura de filantropia dentro da organização, ela jamais conseguirá entender plenamente o papel da captação de recursos para o seu sucesso. Ela jamais viverá pela filantropia, atuando sempre apenas em nome dos seus projetos.
Essas são algumas características de uma instituição que promove a cultura filantrópica. E quais seriam alguns dos benefícios de se promover essa cultura dentro da organização?
São vários os benefícios, mas definitivamente não é fácil alcançar uma cultura filantrópica dentro de uma associação ou fundação. Ela deve ser construída; ela é um processo que leva tempo; requer uma liderança forte; e é um processo estratégico, intelectual e em muitos casos complicado.
Não há uma forma ideal de alcançá-la internamente, mas todo o processo deve ser baseado em três pilares da mudança: na forma como pensamos, no que falamos e no que fazemos.
Para transformar como pensamos, as dicas que tenho são:
Quanto a mudar a forma que falamos:
E, finalmente, há a mudança de como fazemos:
Todas essas sugestões colaboram para a construção de uma cultura filantrópica dentro da organização. É fundamental que o Conselho de Administração compartilhe dessa cultura, é fundamental que o Conselho de Administração entenda o seu papel para garantir a sustentabilidade da instituição a partir da captação de recursos.
No próximo e último artigo dessa sequência, falarei sobre como as organizações podem compor os seus Conselhos de Administração da melhor maneira possível, definindo papeis e perfis para os membros do Conselho.
O sucesso de uma organização começa por cima. Se o Conselho não está no mesmo barco, contribuindo para a captação de recursos, a organização não navegará em águas tranquilas.
1Guia das Melhores Práticas de Governança para Institutos e Fundações Empresarias (2014), disponível em http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/GUIA%20GIFE%20_%20 2014%281%29.pdf.