Até 2030, temos a oportunidade de influenciar a sustentabilidade global a partir do voluntariado no Brasil e no mundo. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um conjunto de convicções de que a humanidade merece um futuro com menos desigualdades, em ambiente seguro e com qualidade de vida, mais educação, justiça, trabalho digno, mobilidade, saúde e diversidade. A outra parte dessa convicção é que o voluntariado pode ser um meio de implementação dessa agenda.
E quem serão os profissionais responsáveis por mobilizar, engajar e organizar a ação voluntária de outras pessoas para implementar metas tão importantes?
Profissionais do voluntariado! As pessoas que mobilizam voluntários em tempo integral, em programas de voluntariado empresarial ou em organizações da sociedade civil, comunitárias.
Na prática, apesar de assumirem a imensa responsabilidade de promover, organizar e articular a prática do voluntariado, normalmente atuam em outras áreas além da gestão dos voluntários e, muitas vezes, sem apoio e planejamento das organizações onde trabalham, sem desenho de carreira etc.
Sem esses líderes não existiriam programas de voluntariado em funcionamento. A atuação 100% dedicada desses “administradores/gestores” de voluntariado é crucial para comprovar o impacto da atividade voluntária nos projetos e nos próprios voluntários.
De acordo com o Council for Certification in Volunteer Administration, nos Estados Unidos (https://cvacert.org/cva-certification/), a administração de programas de voluntariado é um campo profissional próprio, formado por ética, um conjunto de capacidades e habilidades específicas de seus profissionais: “a Administração de Voluntariado é a atividade profissional que integra voluntários de maneira efetiva, no interior de uma organização, para melhorar resultados e obter performance social de alto nível” (CCVA, 2018).
Desde que planejado e gerenciado estrategicamente, o trabalho voluntário, elemento principal da profissão, é um poderoso gerador de ações de impacto para influenciar problemas sociais.
Não podemos contar apenas com a sorte, ou apenas com a elevada cultura solidária. Aliás, nenhuma cultura se move automaticamente rumo a inovações e transformações.
Estamos em um tempo no qual meios de implementação tradicionais são insuficientes. O voluntariado brasileiro precisa de mais metodologia. Reconhecer o voluntário como parte interessada, assim como Estado, empresas e demais organizações da sociedade civil, é o primeiro passo para engajar programas de voluntariado como meio efetivo de implementação da agenda 2030, por exemplo.
A era do trabalho voluntário com base no “fazer qualquer coisa para qualquer pessoa com o tempo que sobra” chegou ao fim.
É momento de construir um novo modelo de trabalho, uma nova filosofia: “governos e instituições públicas também trabalharão em estreita colaboração na implementação da Agenda 2030, com autoridades regionais e locais, instituições sub-regionais, instituições internacionais, instituições acadêmicas, organizações filantrópicas, grupos de voluntários e outros”. Transforming our world: The 2030 Agenda for Sustainable Development. 2018 (https://www.unfpa.org/resources/transforming-our-world-2030-agenda-sustainable-development).
A forma de atuação muda, adapta-se às demandas, mas o trabalho de mobilização requer instrumentos profissionais, ferramentas de gestão de pessoas, como as usadas em um departamento de recursos humanos,
Apesar da pandemia, para a organização do setor e a qualificação das pessoas, algumas diretrizes devem ser consideradas, tanto para o aprimoramento da gestão dos programas de voluntariado quanto para o atingimento das metas e objetivos da agenda 2030. São elas:
1. Definir com clareza a função dos profissionais de gestão dos programas de voluntariado: descrição das atividades e talentos necessários, postos de trabalho, salário, carga-horária e metas ligadas à missão social da organização;
2. Conhecer com profundidade metodologias sobre programas de voluntariado, teoria e literatura especializada, casos de sucesso; formar uma rede profissional;
3. Dominar conhecimento técnico e metodológico, com base em experiências práticas de voluntariado; ser capaz de decidir quais abordagens são as mais adequadas e eficientes em todas as etapas da gestão e para cada tipo de programa;
4. Ampliar o repertório de temas que funcionem como suporte à gestão de voluntariado: aspectos jurídicos, contábeis, recursos humanos, comunicação. E, ainda, as especialidades e especificidades de atuação (saúde, museus, situações emergenciais e desastres, meio ambiente, jovem voluntário, voluntariado e o idoso etc...)
5. Reconhecer e valorizar o profissional gestor de voluntariado: o 5 de novembro é, desde 2006, o Dia Internacional dos Gerentes de Voluntários (IVMDay). Lideradoa pela norte-americana Nan Hawthorn, a data foi criada em 1999 para reconhecer os Gestores de Voluntários e seus relevantes papéis na mobilização, engajamento e apoio dos voluntários no mundo.
Se conseguirmos desenvolver esses itens em alto nível, teremos uma atuação profissional mais qualificada sobre lideranças, processos e pessoas no voluntariado.