É muito comum o uso do termo “meios de pagamento” quando nos referimos às várias formas possíveis de fazer doações para organizações da sociedade, em especial quando elas são em dinheiro. Eu prefiro chamá-las de “meios de doação”.
Faço essa opção por um motivo simples: doações e pagamento são diferentes.
Um pagamento, de forma geral, impõe uma contrapartida da parte de quem o recebe, seja a entrega de um produto ou a prestação de um serviço. Quem paga sabe que vai receber algo em troca, e quem recebe sabe que tem uma obrigação com quem pagou.
Na doação, isso não existe. A doação é voluntária, quem doa o faz porque quer contribuir com alguma causa e quer gerar impacto. Não há uma obrigação direta de entrega entre quem recebe a doação e quem a faz, e quem doa não é obrigado a seguir doando, nem pode ser questionado se parar de fazê-lo.
Se são diferentes, pagamentos e doações devem ter tratamento financeiro diferente também. Doações devem ser identificadas como tal, ter incentivos que as estimulem e meios próprios ou adaptados. Infelizmente, como veremos em alguns casos, não é isso que acontece no país.
Meios de doação
São várias as maneiras pelas quais as organizações podem receber doações:
- Dinheiro em espécie: este é o mais conhecido e mais tradicional meio de se realizar uma doação para uma causa, podendo ser por meio de papel ou em moedas mesmo. Podem ser realizadas em caixinhas de doação, moedeiros etc.
- Cheques: são um meio de doação muito comum nos Estados Unidos, porém menos tradicional no Brasil, a ponto de ser inclusive pouco lembrado como meio de doação (e/ou de pagamento). Cheques são ordens de pagamento à vista e podem ser utilizados para a realização de doações de grande valor. Inclusive, quando se quer simbolizar uma doação de impacto, é comum apresentá-la por meio de um grande cheque simbólico.
- Boletos: são muito comuns no Brasil, utilizado tantos para doações “on-line” como “off-line”, e são bastante versáteis. O Banco Central regulamenta apenas boletos de pagamento, e não de doações, o que obriga as instituições a mandar o “boleto errado” para seus doadores e doadoras (e, também em razão disso, a ABCR tem uma proposta de mudança de lei em debate no Congresso Nacional).
- Cartão de crédito ou débito: cartões magnéticos são meios de doação bastante úteis, em especial os de crédito, porque possibilitam que as doações sejam recebidas de forma recorrente – ou seja, o doador ou doadora cadastra o cartão uma única vez, e a organização recebe o recurso todos os meses.
- Transferências eletrônicas: quem quer doar pode também se utilizar de transferências a partir da sua conta bancária, conhecidas como TEDs ou DOCs. Nesses casos, o custo da transferência é de quem doa, e não de quem recebe a doação (como acontece também no caso do uso de boletos ou cartões).
- Plataformas e aplicativos on-line: está se tornando cada vez mais comum as pessoas manterem “carteiras de dinheiro virtuais”, em aplicativos como PayPal, PicPay, PagSeguro etc. Essas carteiras servem como meios de doação para instituições e contribuem para aumentar seus recursos. As organizações precisam ter contas nesses aplicativos para poderem receber as doações.
- Criptomoedas: são pouco conhecidas e bastante complexas. A mais famosa das criptomoedas é o bitcoin, e para poder receber em bitcoins a organização também precisa saber transacionar essas moedas digitais. Atualmente há algumas experiências tentando utilizar criptomoedas para incentivar as doações.
Esses sete são os principais e mais utilizados meios de doação no Brasil. Poderíamos listar outros, como o código QR, o pagamento por aproximação (NFC) etc., que atuam como mecanismos para levar o doador ou doadora a um meio de pagamento, e também são bem importantes.
Para finalizar, não podemos deixar de falar do meio de doação que está chegando, e tem tudo para alavancar consideravelmente as doações no Brasil: o PIX.
Criado pelo Banco Central e lançado em novembro de 2020, o PIX funcionará como um meio de doação instantâneo. Quem doa poderá fazê-lo a qualquer momento do dia, em qualquer dia da semana, utilizando de qualquer dispositivo seu que estiver cadastrado no PIX - e a instituição receberá a doação no mesmo instante.
Como não depende de cartão de crédito ou débito, o PIX poderá transformar doadores indivíduos que querem contribuir, mas não tinham como. Se realmente “pegar” no Brasil, será um grande aliado das instituições para alavancar as doações e tornar nosso país ainda mais solidário. Torcemos por isso.