Os muitos meios de doação

Por: João Paulo Vergueiro
31 Maio 2021 - 00h00

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É muito comum o uso do termo “meios de pagamento” quando nos referimos às várias formas possíveis de fazer doações para organizações da sociedade, em especial quando elas são em dinheiro. Eu prefiro chamá-las de “meios de doação”.

Faço essa opção por um motivo simples: doações e pagamento são diferentes.

Um pagamento, de forma geral, impõe uma contrapartida da parte de quem o recebe, seja a entrega de um produto ou a prestação de um serviço. Quem paga sabe que vai receber algo em troca, e quem recebe sabe que tem uma obrigação com quem pagou.

Na doação, isso não existe. A doação é voluntária, quem doa o faz porque quer contribuir com alguma causa e quer gerar impacto. Não há uma obrigação direta de entrega entre quem recebe a doação e quem a faz, e quem doa não é obrigado a seguir doando, nem pode ser questionado se parar de fazê-lo.

Se são diferentes, pagamentos e doações devem ter tratamento financeiro diferente também. Doações devem ser identificadas como tal, ter incentivos que as estimulem e meios próprios ou adaptados. Infelizmente, como veremos em alguns casos, não é isso que acontece no país.

Meios de doação

São várias as maneiras pelas quais as organizações podem receber doações:

  1. Dinheiro em espécie: este é o mais conhecido e mais tradicional meio de se realizar uma doação para uma causa, podendo ser por meio de papel ou em moedas mesmo. Podem ser realizadas em caixinhas de doação, moedeiros etc.
  2. Cheques: são um meio de doação muito comum nos Estados Unidos, porém menos tradicional no Brasil, a ponto de ser inclusive pouco lembrado como meio de doação (e/ou de pagamento). Cheques são ordens de pagamento à vista e podem ser utilizados para a realização de doações de grande valor. Inclusive, quando se quer simbolizar uma doação de impacto, é comum apresentá-la por meio de um grande cheque simbólico.
  3. Boletos: são muito comuns no Brasil, utilizado tantos para doações “on-line” como “off-line”, e são bastante versáteis. O Banco Central regulamenta apenas boletos de pagamento, e não de doações, o que obriga as instituições a mandar o “boleto errado” para seus doadores e doadoras (e, também em razão disso, a ABCR tem uma proposta de mudança de lei em debate no Congresso Nacional).
  4. Cartão de crédito ou débito: cartões magnéticos são meios de doação bastante úteis, em especial os de crédito, porque possibilitam que as doações sejam recebidas de forma recorrente – ou seja, o doador ou doadora cadastra o cartão uma única vez, e a organização recebe o recurso todos os meses.
  5. Transferências eletrônicas: quem quer doar pode também se utilizar de transferências a partir da sua conta bancária, conhecidas como TEDs ou DOCs. Nesses casos, o custo da transferência é de quem doa, e não de quem recebe a doação (como acontece também no caso do uso de boletos ou cartões).
  6. Plataformas e aplicativos on-line: está se tornando cada vez mais comum as pessoas manterem “carteiras de dinheiro virtuais”, em aplicativos como PayPal, PicPay, PagSeguro etc. Essas carteiras servem como meios de doação para instituições e contribuem para aumentar seus recursos. As organizações precisam ter contas nesses aplicativos para poderem receber as doações.
  7. Criptomoedas: são pouco conhecidas e bastante complexas. A mais famosa das criptomoedas é o bitcoin, e para poder receber em bitcoins a organização também precisa saber transacionar essas moedas digitais. Atualmente há algumas experiências tentando utilizar criptomoedas para incentivar as doações.

Esses sete são os principais e mais utilizados meios de doação no Brasil. Poderíamos listar outros, como o código QR, o pagamento por aproximação (NFC) etc., que atuam como mecanismos para levar o doador ou doadora a um meio de pagamento, e também são bem importantes.

Para finalizar, não podemos deixar de falar do meio de doação que está chegando, e tem tudo para alavancar consideravelmente as doações no Brasil: o PIX.

Criado pelo Banco Central e lançado em novembro de 2020, o PIX funcionará como um meio de doação instantâneo. Quem doa poderá fazê-lo a qualquer momento do dia, em qualquer dia da semana, utilizando de qualquer dispositivo seu que estiver cadastrado no PIX - e a instituição receberá a doação no mesmo instante.

Como não depende de cartão de crédito ou débito, o PIX poderá transformar doadores indivíduos que querem contribuir, mas não tinham como. Se realmente “pegar” no Brasil, será um grande aliado das instituições para alavancar as doações e tornar nosso país ainda mais solidário. Torcemos por isso.

 

 

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