O Mundo VUCA, mudanças climáticas e o voluntariado: adaptando-se à realidade em constante transformação

Por: Silvia Naccache
05 Dezembro 2024 - 00h00

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A sigla VUCA, formada pela primeira letra das palavras em ingles volatility (volatilidade), uncertainty (incerteza), complexity (complexidade) e ambiguity (ambiguidade), surgiu no final da década de 1980, inicialmente no contexto militar norte-americano. Em um mundo

pós-Guerra Fria, marcado pela queda do Muro de Berlim e pelo fim da bipolaridade global, as Forças Armadas dos EUA buscavam um novo modelo para descrever e analisar os cenários geopolíticos e as ameaças emergentes. O relatório publicado em 1997 identificava as seguintes características do novo ambiente global:

  • Volatilidade: mudanças rápidas e inesperadas em diversos aspectos, com destaque para a política, a economia e a tecnologia.
  • Incerteza: dificuldade em prever o futuro e tomar decisões com base em informações precisas e completas.
  • Complexidade: multiplicidade de fatores interligados e interdependentes, tornando difícil a compreensão dos eventos e suas consequências.
  • Ambiguidade: falta de clareza e múltiplas interpretações possíveis para as mesmas situações.

O conceito VUCA rapidamente se disseminou para além do âmbito militar, encontrando aplicação em diversos setores da sociedade, entre eles o mundo dos negócios, a gestão pública e o Terceiro Setor. A popularização do termo deve-se à sua capacidade de capturar as características essenciais do mundo contemporâneo, marcado por mudanças aceleradas, interconexões globais e a crescente complexidade dos desafios enfrentados pela humanidade. O conceito molda a realidade em que vivemos e, consequentemente, as práticas de voluntariado, especialmente em situações de emergência e desastres climáticos. As lições aprendidas com o mundo VUCA não são receitas prontas, mas sim princípios a serem adaptados às particularidades de cada contexto. Sendo assim, compreender as nuances desse conceito e suas implicações é crucial para o desenvolvimento de programas de voluntariado mais eficazes e resilientes.

Em um desastre natural como o que acabamos de enfrentar no Rio Grande do Sul, por exemplo, a escassez de recursos e a infraestrutura precária exigem dos voluntários habilidades específicas de logística, muita resiliência, solidariedade e adaptabilidade. Já em uma situação ou região de conflitos e guerras, crise humanitária, o foco pode estar na mediação cultural e no apoio emocional e psicológico aos refugiados. O voluntariado manifesta-se em uma multiplicidade de cenários e características socioeconômicas, culturais e políticas, sempre buscando a reconstrução social e o bem-estar das pessoas. 

As mudanças climáticas intensificam os aspectos VUCA do mundo, gerando eventos climáticos extremos como enchentes, secas e furacões. A imprevisibilidade desses eventos exige dos programas de voluntariado flexibilidade para responder rapidamente e de forma eficaz às necessidades emergenciais. Em qualquer que seja a situação emergente, o voluntariado, para ser eficiente e resiliente e realmente trazer o impacto e os resultados necessários, vai precisar de: 

Treinamento: capacitar os voluntários para lidar com diferentes tipos de desastres, urgências e emergência e com as características específicas de cada comunidade e território.

  • Comunicação: estabelecer canais de comunicação claros e transparentes para manter os voluntários informados sobre a situação e as necessidades em constante mudança.
  • Parcerias: colaborar e trabalhar em rede para ampliar o alcance e a efetividade das ações de voluntariado, manter um diálogo com empresas, poder público e outras organizações para gerar impacto e transformação. 
  • Monitoramento e avaliação: monitorar continuamente os programas de voluntariado e avaliar sua eficácia na resposta às necessidades emergenciais em constante mudança. Ter um olhar atento ao comportamento e bem-estar dos voluntários também é imprescindível. 

As características do VUCA oferecem uma lente valiosa para compreender o mundo em constante transformação em que vivemos e exigem dos programas de voluntariado flexibilidade, adaptabilidade, comunicação clara e transparente e a capacidade de lidar com a diversidade de contextos e desafios. Só compreendendo isso é que será possível atender às necessidades em constante mudança das comunidades afetadas por emergências e desastres climáticos, desenvolver programas mais eficazes e resilientes, voluntários mais bem preparados para a ação e mais comprometidos e satisfeitos e, assim, maximizar o impacto positivo do voluntariado na sociedade. 

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