Teorias da comunicação recentes estão abandonando o termo “comunicação social” e substituindo por “cultura da comunicação”. Pressupõe-se que o homem comunica, desde a pré-história, para romper com a solidão. Por isso, a comunicação já é, por natureza, social. Ela garante a sociabilidade dos homens e das instituições “sejam elas privadas, públicas ou de Terceiro Setor “ante os desafios do período histórico. Solidariedade também é algo presente há muito tempo em nossa civilização, e chega a ser clichê. Mas, é possível ser solidário na “cultura da comunicação”? Para isso, vamos conhecer a experiência do jornalista e coordenador do setor de comunicação do Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS), Fabiano Viana. O SEFRAS é uma rede de solidariedade mantida pela Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, que é formada por religiosos franciscanos. Está presente em três Estados: São Paulo (São Paulo e São Sebastião), Rio de Janeiro (Petrópolis e Tanguá) e Paraná (Curitiba). Conta com 120 trabalhadores envolvidos nos mais diversos serviços “crianças, adolescentes, jovens, idosos, população de rua, catadores de materiais recicláveis, pessoas que vivem com HIV, pessoas em conflito com a lei e imigrantes “voluntários, doadores e instituições parceiras.
Fabiano chegou à instituição há quatro anos para programar um setor e pensar um plano, ambos de comunicação. As prioridades foram a atualização do site, a elaboração de boletins trimestrais e a criação de uma revista. “A proposta era implantar o setor na sede e pensar estratégias novas de comunicação. Não se tinha um plano pensado para a comunicação”. A partir daí começou a pensar-se um plano de gestão em comunicação. O projeto foi bem recebido pela instituição, pois a mesma já possuía uma metodologia de planejamento anual para todos os setores. “Quando cheguei existiam algumas coisas emergenciais: o site era muito antigo, em uma linguagem básica. Hoje já estamos trocando para algo mais moderno”. Além disso, o setor de comunicação produzia um boletim pensado especialmente para os doadores e uma revista anual que segue a mesma editoria, e ambos permanecem até hoje. No que tange a comunicação interna, a instituição de filosofia franciscana também evoluiu. Os próprios serviços produzem materiais “fotos, depoimentos, textos “sobre os principais eventos que ocorrem durante o ano, e o setor de comunicação dá o “tratamento jornalístico” para a divulgação. Além disso, o setor tem a ideia de aprimorar a comunicação entre os trabalhadores através do aplicativo “WhatsApp”.
Muito se discute sobre o papel do comunicador como mediador da discussão política. Mas como deve ser o papel de um jornalista, carregado de toda uma tradição de intervenção política, dentro de uma instituição social que convive diariamente com as camadas mais periféricas da sociedade, isto é, a população que vive afastada “e por vezes banida “da discussão política que ocorre no centro? Institucionalmente, o SEFRAS possui esse lado de articulação política, como compor fóruns e conselhos, por exemplo, e discute mais politicamente os direitos humanos, mas também é um desafio comunicar isso levando em consideração o doador, que muitas vezes tem uma visão mais conservadora. “O doador não quer saber se estamos batendo panela por aí”, brincou. Mas, não para por aí. Esta articulação também está presente no atendimento realizado nos variados serviços. Um exemplo disso são os imigrantes, que recentemente passaram a serem atendidos pela instituição. Um novo público demanda novas formas de comunicação. No SEFRAS, o atendido não encontra todos os serviços de que necessita: existe aí uma comunicação com o setor público e com ONGs parceiras. Neste processo, o atendido torna-se protagonista do seu processo de inclusão na sociedade. Pensando em comunicação, é papel do comunicador ser facilitador para que o público consiga, por meio da informação, protagonizar as ações da sua vida, no âmbito político principalmente.
Hoje, além de produzir material para as mídias tradicionais “rádio e impresso “a instituição mantém perfis nas redes sociais para divulgação das atividades. “A nossa função é mostrar o lado positivo, e não expor a miséria. É mostrar o outro lado: o lado da solidariedade”. Para o jornalista, esse tipo de ação cria uma corrente “especialmente através das mídias sociais “que vai transformando a sociedade. Dentro do trabalho social, a comunicação tem a função de romper com a “cultura do fechamento”: “é como o caranguejo que fica dentro do buraco e não conta o que ele faz dentro daquele buraco, dentro do mundo dele”. A comunicação é, justamente, a expansão de dentro para fora do “buraco”, especialmente no caso dessa instituição que quer comunicar a solidariedade franciscana, no diferencial de acolher e promover a dignidade, incentivando a cidadania. “Quando comunicamos tudo isso, cria-se uma corrente. Pode até ser clichê, mas cria-se uma corrente do bem”. Neste processo, a social media – Facebook, Twitter e Instagram – torna-se propagadora da ‘cultura da solidariedade’, que rompe com todo tipo de fechamento. “É uma explosão para fora, de não deixar guardado, mas fazer isso explodir para o mundo por meio das redes sociais.” No mundo virtual, esta cultura pode despertar gestos de solidariedade em diversos locais.
Para criar a solidariedade como parte fundamental da “cultura da comunicação”, o comunicador deve contar histórias que transformam, motivam e emocionam: “o leitor vai se emocionar muito mais com os depoimentos de gente comum como ele”. Ou seja, pensar uma cultura de solidariedade hoje, na comunicação, é justamente valorizar o povo. “As histórias do povo são tão importantes quanto as fontes oficias” completou. A experiência de comunicação do SEFRAS tem muito a dizer. Porém, ficam mais perguntas do que respostas. Comunicamos o quê e para quem? Como pensar a comunicação partindo da periferia existencial? Basta ser solidário, se vivemos em uma “cultura de fechamento”? O que é, realmente, solidariedade? Continuamos na busca, como futuros comunicólogos, de encontrar caminhos para uma comunicação renovada e preocupada com a sociedade que estamos expondo em nossas mídias. O caminho da comunicação é um caminho de esperança, como na música de Ivan Lins “que a nossa esperança, seja mais que vingança, seja sempre um caminho que se deixa de herança”.