A inclusão produtiva está em alta há algum tempo no mundo corporativo, sendo uma forte vertente das políticas de Environmental, Social and Governance — ESG. Muitas empresas têm se preocupado em incluir pessoas diversas em seu organograma, por meio de programas de inclusão e capacitação, mas muitas vezes sem responder à pergunta: “o que estou oferecendo a esse jovem é o suficiente para que ele se desenvolva e ingresse de verdade no mercado de trabalho?”
A inclusão produtiva vai muito além de abraçar pessoas diversas e em situação de maior vulnerabilidade, o que é primordial; mas, quando efetiva, ela precisa ter como base a equidade em um plano em longo prazo, que possibilitará não apenas a inserção do jovem no mercado de trabalho, mas o seu pleno desenvolvimento profissional e social.
De acordo com o Atlas das Juventudes, no Brasil quase 50 milhões de pessoas são jovens, com idade entre 15 e 29 anos. Se refletirmos por um momento sobre esse número, chegaremos a alguns questionamentos, como: será que todos esses jovens tiveram o mesmo acesso à educação, saúde básica, cultura, moradia e alimentação de qualidade? Então, será que apenas disponibilizar oportunidades pontuais sem considerar tantas variáveis é a melhor forma de praticar a inclusão produtiva? Como garantir que a inclusão produtiva que faço na minha empresa seja de fato efetiva?
Apesar de não ser tão simples, com observação e reflexão podemos chegar a algumas resoluções. E isso pode ser feito mesmo antes de ter esse jovem inserido em nossa empresa, de fato. Quando eu, como empresa ou gestor, ofereço um programa de capacitação voltado para jovens talentos que se encontram em situação de vulnerabilidade, posso dizer que estou fazendo o necessário? Será que nesse programa se pensou no deslocamento, no acesso às ferramentas necessárias, na alimentação, no nível de escolaridade compatível?
Um grande exemplo disso são os cursos de capacitação que são realizados em formato online ou híbrido, que ficaram mais frequentes após a pandemia. A ideia é ótima, mas nem todos os jovens têm acesso a uma internet de qualidade em casa ou condições financeiras para se deslocarem até um local parceiro que disponibilize computadores e internet para as aulas. Essas são lacunas que também precisam ser preenchidas para que o método se torne eficiente. Só abrir vagas e oferecer um curso de capacitação não é a solução. Nesses casos, é importante que as empresas estejam dispostas a promover soluções e amparo para esses jovens em todos os processos que permeiam a realização de um curso.
Se a capacitação não for pensada de forma responsável, olhando realmente para as necessidades do estudante, se nada disso for pensado e disponibilizado, esse jovem quando e se for absorvido pelo ambiente de trabalho terá os mesmos resultados e poderá “competir” de maneira igual com os outros? Provavelmente não.
Tendo esses pontos em vista, é necessário abrir o olhar também para o preparo emocional desses jovens que, em sua maioria, vêm de situações de poucos recursos e com uma bagagem maior de situações adversas. Por isso, torna-se importante também promover a autoconfiança e a autoestima, pois quem não se reconhece capaz não consegue ousar e seguir em frente. Sendo assim, é preciso refletir até mesmo sobre como e quais são os critérios de contratação e promoções da empresa, por exemplo. Muitas vezes, as oportunidades mais interessantes demandam tantos requisitos que só podem ser abraçadas por aqueles que estudaram nas melhores instituições ou até mesmo tiveram uma experiência de vivência internacional. É claro, tudo isso merece ser valorizado por uma empresa, mas talvez a resiliência, força de vontade e dedicação daqueles que ainda não tiveram essas chances também mereçam.
São muitas as vertentes de reflexão quando falamos da inclusão produtiva. Mas, sem dúvida, são pontos latentes que precisam ser repensados por pessoas, empresas e instituições que desejam que a inclusão produtiva seja parte de sua cultura organizacional e não apenas uma ação isolada, tornando o seu ambiente de trabalho mais justo e inclusivo, gerando resultados que beneficiam toda a sociedade.
Considerando todas essas questões, você e sua empresa, o que pensam sobre isso? Há um espaço, de fato, para uma inclusão criativa e produtiva para nossos jovens brasileiros em seu ambiente de trabalho?