"Mas, afinal, até que ponto podemos imaginar que uma identidade visual pode causar um impacto para os olhos de quem não faz parte daquele grupo?” Andar por São Paulo, uma cidade cosmopolita, é realmente algo diferente de qualquer lugar do mundo. Gosto muito de caminhar pelo centro velho de São Paulo e pela Avenida Paulista, dois locais onde uma parcela da população se aglomera para diversos eventos de diferentes vertentes. São nesses lugares que encontramos punks, góticos, indies, hipsters, grunges (ou o que sobrou do movimento grunge), e todo o tipo de música que, de certa forma, é a maior influência em um público que tem sua identidade visual.
O mundo segue com mudanças, e algumas delas afetam o dia a dia e a cultura de diversas pessoas que contribuem para a criação e o fortalecimento de um grupo estabelecido na sociedade. Mudanças econômicas e políticas afetam o comportamento de muitos. Hoje em dia, é difícil ver uma pessoa que se considere “hippie”, pois as mudanças ocorridas em nossa sociedade fizeram com que essa cultura, tão forte na década de 1970, perdesse força. Mas, o que eles têm a ver com a identidade visual? Eram muito marcados por uma forte influência de ideais que aplicavam em suas roupas largas, bem soltas, apresentando toda a liberdade de uma geração, mostrando que o simples chama mais a atenção do que uma extravagância. Isso é uma identidade visual que fica na memória, e até mesmo no imaginário de quem nunca viu e criou, mentalmente, o visual de uma pessoa de determinada tribo.
No mundo em que vivemos, criar uma identidade visual é algo que realmente importa, afinal, muitos a utilizam para se adequar a grupos da sociedade. Aí existe certo paradigma de que, para estar em determinado grupo da sociedade, não é necessário só parecer, mas sim ser e compreender certo tribo que domina tal espaço. Mas há exemplos clássicos e notórios na sociedade, como pessoas que são adeptos de certo estilo musical, mas não se vestem como. É, de certa forma, atípico ver alguém em determinado grupo social com uma identidade visual diferente daquela que se torna padrão dentro da tribo.
Uma pessoa que não tem proximidade com determinado conjunto sente certa estranheza, e acaba por criar em sua mente um pré-conceito sobre tal conjunto relacionado a uma cultura. Algumas, em casos extremos, sentem até medo por não ter vivência, e a aparência pode se tornar um fato determinante, pois grupos que utilizam fortemente a identidade visual também usam e abusam de vários fatores que marcam, como acessórios, roupas extravagantes e penteados um tanto quanto exóticos. Para muitos, pode ser algo completamente fora do padrão, mas para quem vive aquilo é tão comum e rotineiro como muitas coisas que acontecem no nosso dia a dia, que certamente é diferente para todos em cada meio social.
Muitas vezes, criar uma identidade visual não parte diretamente de um grupo, mas também do individual, pois muitos querem ser conhecidos ou vistos de uma forma diferente dos demais, criando algo próprio, ou retornando a algo que não tem mais tanta expressividade atualmente em nossa sociedade. É possível compreender que, atualmente, vivemos intensamente a aparência, afinal, desde tempos atrás a sociedade cria uma maneira de identificar o próximo ou alguma coisa, como, por exemplo, os estilos de pintura, para quem tem determinado conhecimento em relação à arte ou até mesmo o pouco que ouviu falar. É possível reconhecer alguns deles, como o surrealismo de Salvador Dali, ou até mesmo o estilo da arquitetura gótica. Esses são alguns exemplos da identidade visual, pois não se trata apenas de um modo de se vestir.
Viver com clareza é perceber cada detalhe, como acompanhar uma caminhada pela famosa “downtown” paulistana e observar tudo, desde um “grafitti” exposto em uma parede até as colunas em estilo romano da caixa econômica de São Paulo. São culturas expostas, ideais, mudanças, histórias e, além de tudo, vida: cada detalhe leva a vida de cada um que se esforçou para ter seu espaço ali e encantar os olhos de crianças, adolescentes e adultos.
Disso tudo pode-se levar não só o choque visual, recebido por esse enxame de cores, imagens, etnias, diferenças e aprendizado, mas também uma vivência enorme que temos ao compreender as diferenças e a ideia de que tudo isso complementa nossas experiências. É importante apreciar o que temos no mundo, acumular nossa cultura, ampliar nosso “know how”.