A fotografia produzida na estação de metrô do bairro do Capão Redondo, periferia da zona sul da capital paulista, tem foco em um único ponto: o piso tátil que guia os deficientes visuais. Ao mesmo tempo, a imagem desfoca no primeiro plano a pessoa que caminha com o auxílio de uma bengala. Atrás estão a cidade e todas as suas cores.
A imagem registrada no Capão Redondo pode ser vista no Memorial da Inclusão, na Barra Funda, até 27 de novembro, como parte da exposição Não Vi, que traz também trabalhos de mais sete fotógrafos cegos. O tema da exposição é acessibilidade.
O fotógrafo João Kulcsár foi quem reuniu o trabalho dos fotógrafos, alunos do curso do Centro Universitário Senac, para a exposição. “Eu trabalho em um projeto chamado alfabetização visual. A ideia é usar a fotografia como ferramenta para a leitura crítica do mundo, a construção da imagem, essa cultura visual. Já trabalhamos com deficientes auditivos também. A diversidade enriquece, com cada público você aprende alguma coisa”, destacou.
Desde 2008, o professor Kulcsár, que não tem deficiência, aprende com seus alunos a desenvolver os outros sentidos – a audição, o tato e o olfato – na hora de fotografar. “Considerando que 75% da nossa percepção são visuais, ela inibe, às vezes, os outros sentidos. E para o fotógrafo, é importante, quando ele documenta a cena, pensar também nos outros sentidos”.
Na prática, os alunos aprendem a fotografar de maneira semelhante, mas cada um aprimora a sua técnica. “Nós aprendemos a colocar a câmera embaixo do queixo, ou na altura do peito ou embaixo do nariz. Sempre com o braço encostado ao corpo, porque o equilíbrio da pessoa com deficiência visual não é muito bom. Então, treme bastante. Com essa técnica inicial, você ganha confiança”, explicou Josias.
Para Kulcsár, mais importante do que dizer como as fotografias são produzidas é explicar porque elas são importantes para os seus alunos. “O deficiente visual quer parar de se sentir invisível na sociedade. Os deficientes visuais querem se expressar. Eles podem fazer tudo, inclusive fotografar”.
O espaço traz nova exposição todo mês e mantém uma mostra permanente com 11 painéis, tratando das deficiências auditiva, visual, intelectual e física. O memorial é dividido pelas alas da comunicação, legislação, direitos da pessoa com deficiência, além da sala de sentidos, onde o visitante sente na pele como é viver sem enxergar.
O Memorial da Inclusão funciona de segunda a sexta, das 10h às 17h, e está localizado na Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 564, na capital paulista. A entrada é gratuita e as visitas de grupos podem ser agendadas pelo telefone (11) 5212-3727.
http://www.agenciabrasil.ebc.com.br
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