Um mundo como o de hoje exige das organizações e de seus gestores uma postura que se assente em um paradigma da gestão, fundamentada em um tipo de pensamento de natureza especial – o pensamento estratégico. Este fornece aos gestores a fundamentação necessária para a construção de um modelo e de ferramentas gerenciais que sejam suficientemente capazes de garantir maior efetividade na gestão das organizações, sejam elas públicas, privadas ou da sociedade civil.
A gestão estratégica, portanto, tende a possibilitar, entre outras coisas, uma administração orientada para resultados, foco no bom atendimento, maior flexibilidade e agilidade na tomada de decisão nos diversos níveis da organização, além da capacitação para enfrentar novos desafios. Assim, torna-se imperativo sinalizar a relevância da gestão estratégica e transparente como mecanismo contributivo à perenidade das organizações e sustentabilidade de seus projetos sociais desenvolvidos no âmbito do Terceiro Setor.
Neste contexto, práticas de transparência e comunicação organizacional, sem dúvida alguma, são inerentes e tornam-se opção irreversível para o desenvolvimento de instituições sociais, na medida em que se deve prestar contas a todos aqueles que as financiam e à sociedade civil.
É um equívoco achar que as organizações sociais não sabem nada sobre gestão, pois é facilmente identificável uma quantidade significativa de entidades sem fins lucrativos que, bem ou mal, sobrevive há anos embora prevaleça o conhecimento tácito sobre o explícito. Várias decisões pessoais e profissionais são tomadas baseadas em propostas espontâneas, intuitivas, informais, desprovidas de fundamentos técnicos. No entanto, nem sempre a informalidade e a intuição são suficientes, principalmente quando se pretende maior grau de objetividade, de precisão e de fundamento para produzir bons resultados.
A sociedade de hoje cobra transparência e resultados, daí a importância e a necessidade de se recorrer a este tipo de gestão sistemática ou estratégica. Ou seja, a principal diferença não está nos seus propósitos, mas nos métodos utilizados, visto que a sistematização da gestão e a avaliação se baseiam em métodos científicos que têm como objeto de estudo as práticas usadas no mundo corporativo.
A grande virada está na tomada de consciência interna, geradora de uma nova postura: da transparência, do amadurecimento, dos compromissos, das responsabilidades. Mas não é nada fácil para os líderes de uma organização reconhecer-se nesse novo cenário, o qual questiona seus conhecimentos porque demanda novas capacidades. As pessoas, na realidade, precisam querer mudar. De nada adianta introduzir novas ferramentas se as concepções permanecem as mesmas, pois nada do que se aprendeu será colocado em prática.
Fritjof Kapra define que “a responsabilidade social de uma organização não pode ser diferente da responsabilidade social dos indivíduos, guardadas as devidas proporções. Deve ter, sobretudo, um comportamento ético”.
O ambiente político em que as organizações sociais atuam mudou irreversivelmente, ao longo das últimas décadas. O aumento da visibilidade e das críticas, entre outros fatores, levou a uma crescente pressão sobre as organizações sem fins lucrativos por uma maior transparência (accountability), tanto dentro como fora do setor, tornando-se imperativa a demonstração/comprovação de que suas ações propiciam impacto positivo e de que representam efetivamente o interesse daqueles que dizem apoiar. Isso se deve ao fato de as organizações sociais ganharem influência nacional e internacional, prestarem muitos serviços públicos e canalizarem uma quantidade cada vez maior de recursos.
O desafio é demonstrar à sociedade que há um número significativo de organizações sociais responsáveis, que merecem crédito da opinião pública para enfrentar as desigualdades sociais. Essa chancela garantirá que se tornem modelos para as demais, exigindo dos gestores uma visão estratégica, pois demanda muito mais transparência e abertura.
Além disso, na medida em que as organizações se expõem, tornam-se vulneráveis, são foco de atenção. Um dos efeitos da transparência, portanto, se reflete na sua eficácia, na mudança de comportamento dos membros da organização. Mudar a cultura organizacional é mudar a própria essência das pessoas no sentido de serem mais responsivas, comprometidas com o resultado de suas ações e, por decorrência, com o resultado das ações sociais nas quais estão envolvidas. A importância da transparência está baseada em seus pontos fundamentais, ou seja, a honestidade e a ética.
Desta feita, é possível perceber movimentos de ruptura no modo de fazer filantropia. Ou seja, passa-se da benemerência para o exercício da cidadania e construção de uma sociedade mais justa. É o surgimento do Terceiro Setor profissional. A transparência precisa permear todo o planejamento estratégico das organizações para tornar-se um dos valores expressos na gestão de pessoas e de projetos, na cultura organizacional e nas parcerias.
A dimensão e a importância da área social mudaram qualitativamente, exigindo um reequilíbrio nas prioridades da sociedade. A transformação é profunda: da benemerência e da generosidade assistencial (prevalecendo doações da Igreja e do Estado) para a compreensão de que a área social se tornou essencial para o desenvolvimento do país. Embora a grande maioria das organizações da sociedade civil ainda não tenha consciência da importância de uma atuação sob o enfoque da gestão estratégica e transparente, já é possível notar certo amadurecimento, quando migram do empirismo, da “boa vontade”, do assistencialismo para a “filantropia profissional”. Ou seja, as organizações sociais, ainda que sem fins lucrativos, precisam cada vez mais de profissionais qualificados e precisam implementar o exercício da transparência organizacional, para diversificar e ampliar parcerias, obter certificações compatíveis, elaborar o demonstrativo contábil, gerenciar projetos, estabelecer um plano de comunicação e transparência, entre outras práticas. Assim, a contribuição da sociedade civil deve ser pautada no conceito de investimento social. E investimento pressupõe retorno, produto, impacto, mudança.
Como ferramentas para a prática da transparência é importante estabelecer canais permanentes de comunicação com os seus públicos (stakeholders) adaptando-se às novas demandas e desafios e dispondo-se a rever ações e estratégias que se mostrem pouco adequadas. Outra ferramenta é a publicação do relatório social, contendo dados de qualidade de modo a permitir uma análise clara de situação financeira da organização e a eficácia dos seus projetos.
Dicas para demonstrar a transparência da sua organização |
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*O presente artigo encontra-se mais detalhado em FIGUEIREDO,E.M.; ARAUJO, F. O. Transparência na gestão e reposicionamento estratégico de uma organização da sociedade civil à luz das premissas de sustentabilidade: estudo de caso do Instituto Rogerio Steinberg. In: Osvaldo Quelhas; Eduardo R. Gomes; Cid Alledi; Marcelo J. Meiriño. (Orgs.). Transparência nos Negócios e nas Organizações aspectos teóricos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2008 (no prelo).
Eleonora Figueiredo. Mestre em educação e especialista em responsabilidade social. Foi assessora de projetos especiais e chancelas da Unesco. Atualmente é gerente de responsabilidade social do Instituto Rogerio Steinberg, no Rio de Janeiro, e palestrante em simpósios ligados ao tema Transparência nos Negócios.
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