Fazer o bem faz bem

A ciência da felicidade nos diz que há quatro fatores principais que permeiam nosso sentimento de contentamento e bem-estar: a solidariedade (sentimento de pertencer), o altruísmo (desejo de ajudar os outros), a generosidade (vontade de compartilhar) e o voluntariado (ato de retribuir).

Cientistas identificaram que nossos cérebros são induzidos a experimentar a felicidade quando fazemos algo de bom para outra pessoa. Ocorre uma explosão de ocitocina, o hormônio do amor, que libera a prazerosa sensação de contentamento quando ajudamos alguém, por isso há uma sensação de recompensa no nível do nosso cérebro. É o que diz a neurociência sobre como a bondade pode contribuir para o nosso bem-estar.

Não é à toa que o voluntariado é uma das melhores maneiras de se sentir bem consigo mesmo e de fazer a diferença na própria comunidade. O voluntariado é visto pela neurociência como facilitador de sentimentos positivos que contribuem para melhorar a autoestima, diminuindo os de solidão e, ao mesmo tempo, os de depressão.

Um estudo de 1.300 voluntários feito em 2014 mostrou que 71% dos pesquisados disseram que o voluntariado os tinha feito sentir-se mais saudáveis. Nesse estudo, aqueles que se voluntariaram com mais frequência relataram menos sintomas de depressão e ansiedade, bem como níveis mais altos de satisfação geral com o tempo, aumentando seu senso de propósito e de felicidade, o que leva à conclusão de que o voluntariado é também benéfico à saúde do coração.

Mas a solidariedade também faz bem para a alma. Praticar a bondade pode nos fazer mais felizes porque traz um sentido de propósito e pertencimento ao nos relacionarmos com outros que compartilham valores e interesses semelhantes, já é característico da nossa espécie a vida em comunidade, a nossa tribo. Ao colocarmos em prática nossos instintos mais humanos, nós nos conectamos com a razão para a existência, praticamos a nossa humanidade.

Como publicitário especializado em comunicação para causas sociais, meu trabalho é usar estratégias de comunicação, produzindo vídeos emocionais para sensibilizar e promover atos de generosidade. Nos mais de dez anos neste ofício, pude observar que as pessoas que decidem apoiar uma ação voluntariamente, seja por doação financeira, seja de trabalho, são aquelas que possuem um senso de responsabilidade e boa vontade para com os seus semelhantes, com o planeta e os animais; são pessoas que possuem uma perspectiva realista e otimista sobre a natureza humana e acreditam que podemos construir um mundo melhor à nossa volta.

Em 2016, voluntariamente, criamos uma campanha de marketing estratégico para uma criança que precisava de recursos por um tratamento no exterior. O resultado? Nosso vídeo ficou viral e se tornou a maior campanha de solidariedade da história brasileira até aquele ano, com repercussão na mídia nacional e internacional. Ao assistirem ao vídeo pedindo recursos, as pessoas queriam fazer algo para além da doação financeira. Muitos se voluntariaram para ajudar a campanha a atingir o objetivo, tanto doando seu tempo quanto realizando eventos ou mobilizando outras pessoas para apoiar a causa. O movimento tomou uma proporção tão expressiva que lhe demos o nome de “Gerando Bondade”.

Esse projeto é a prova de que a bondade é contagiante. Vivemos na era da influência, e motivar os outros pode ser tão gratificante quanto motivar a si mesmo. Se você já está fazendo trabalho voluntário, então essa é uma ótima maneira de influenciar pelo exemplo de ajudar os outros. Compartilhar nossos conhecimentos e habilidades com os outros é um passo decisivo para garantir que o mundo seja um lugar melhor.

“Quem não vive para servir, não serve para viver”, disse Mahatma Gandhi. A espiritualidade, na busca por explicações para a nossa existência, entende o ato de servir como “ser-vir”, deixar o nosso “ser” vir à tona; é como colocar para fora as nossas virtudes, compartilhando o que temos de melhor e, assim, vivermos a plenitude da nossa experiência. Afinal, o que nos traz felicidade é a sensação de servir positivamente, impactando o mundo à nossa volta, edificando e evoluindo com a vida para que, ao fim da nossa jornada, possamos ser lembrados pelo bem que deixamos como legado.

É inerente ao ser humano a busca pela felicidade. O mundo capitalista, ciente deste nosso anseio, instiga-nos a todo momento com ofertas publicitárias para suprir esse desejo. Ironicamente, é na filantropia que encontramos o caminho mais curto para a nossa realização pessoal.