Engajamento Humanizado

Por: Marco Iarussi
06 Setembro 2019 - 00h00

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Você tem observado que está cada vez mais difícil despertar a atenção das pessoas para a importância da sua causa? Nunca estivemos tão próximos dos nossos doadores e tão longe de atrair um olhar generoso para se engajar na organização. O motivo desse cenário sempre existiu, mas a tecnologia potencializou o individualismo.

Mesmo diante das novas mídias, com o mundo inteiro conectado a computadores de última geração nas redes de alta velocidade, ainda não conseguimos diminuir distâncias em conexões humanas. Não é raro ver encontros de família, amigos na mesa do bar e até jantares românticos em que cada um está olhando para a tela do smartphone sem interagir com quem está a um palmo de distância. Estamos nos isolando das relações e nos tornando solitários, mesmo conectados a centenas de amigos nas redes sociais.

A impressão é que de ‘sociais’ as redes só têm o nome. As novas relações são de amizades virtuais, namoros à distância, cinema em casa e até o trabalho é no home office. Virtuais também parecem ser os valores, mensurados em ‘curtidas’, ‘seguidores’, ‘compartilhamentos’, tudo através de telas e câmeras de ultradefinição, embora tão distantes da realidade.  No mundo ‘self’, contato humano é raridade.
A inteligência artificial é o futuro da tecnologia, mas pouco se fala em inteligência emocional.

A boa notícia é que esse comportamento tem prazo de validade e já está para terminar. Quem aguentaria viver tanto tempo nessa bolha fria de isolamento, sem calor humano?

A ‘Era tecnológica’ proporcionou uma extraordinária evolução do homem contemporâneo que, nos últimos 50 anos, conquistou mais inovações do que em toda a história da humanidade. Nesse estado abundante de inovações, conteúdo, produtos, serviços e lucros, onde tudo parece já ter sido inventado, surgem muitas inquietações. E agora? Qual o sentido de tudo isso? O que queremos daqui pra frente?

Especialistas em comportamento do consumidor apontam para um momento de ruptura no qual o automatismo dará espaço à busca por sentimentos, emoções, desafios e tudo aquilo que nos coloque em contato com nosso lado mais humano. Observam ainda que neste momento as pessoas começam a buscar algo para preencher um vazio que ainda não sabem qual é.

Mas eu acredito que nós, agentes do terceiro setor, temos de sobra e trabalhamos com isso há muito tempo: O Propósito.

Pesquisas recentes identificaram no perfil da ‘geração Z’, os que nasceram após a disseminação da internet, a partir de 1996, não só o anseio por bens materiais, como a vontade de melhorar o mundo. São jovens engajados em causas sociais, voluntariado e que consideram o impacto positivo de uma marca ou produto antes de decidirem pela compra.

Outro fator relevante é o poder de influência dessa geração no comportamento das pessoas mais velhas; são os formadores de opinião, atualmente chamados pelo mercado de “influencers”.

Nesse campo, campanhas que se conectam com o lado sensorial do público, usando a criatividade para emocionar seus seguidores, e que proponham uma ação transformadora, terão em mãos ferramentas que valem ouro. 

Num mundo cheio de estímulos e informações, disputar espaço para ser notado é um desafio para qualquer anunciante. Mas quando se trata de atender os anseios desse novo perfil de consumidor, organizações sociais possuem ativos que muitas empresas estão buscando: impacto positivo e valores humanos.

Em meu trabalho com vídeos para causas sociais, o desafio sempre foi tocar o coração de quem assiste ao filme. Todo o conhecimento que obtive dos tempos de produções televisivas e práticas em desenvolvimento humano, aliado a vivências em causas sociais, lapidaram meu olhar à necessidade de contar histórias verdadeiras, com uma sensibilidade capaz de provocar no público o desejo de fazer algo. E mesmo atuando dessa forma em duas décadas de profissão, nunca o momento foi tão propício para a abordagem a qual dei o nome de “Engajamento Humanizado”.

Entende-se como ‘humanizada’ a mensagem afetuosa, que propõe a transformação, em um roteiro intuitivo, revelando a importância da causa.

É uma nova linguagem. Muito diferente daquela visão negativa do marketing, que infelizmente ainda se pratica, manipulando decisões por meio de armadilhas e falsas promessas.

Também não se trata de ‘persuasão’ que, numa visão mais ética e respeitosa, propõe caminhos e conduz a uma solução. O Engajamento Humanizado tem como proposta encantar as pessoas, despertando o desejo genuíno de mobilização. É um convite a ação que transita da realidade virtual para o mundo real.

Recentemente Tati Vadiletti e eu palestramos no Google For Startup a convite da iniciativa “O Poder da Colaboração”, defendendo o uso do marketing com propósito. Em um espaço que vivencia a inovação o tempo todo, o tema abordado impactou a plateia lotada de empreendedores, e muitos saíram de lá motivados com essa nova visão, o que reforça a necessidade de explorar ainda mais uma comunicação focada em propósito, impacto social e humanização da mensagem.

A minha causa é defender o marketing pelo bem, disseminar conteúdos positivos e promover estratégias que ajudem organizações a encantar pessoas. E o ‘Engajamento Humanizado’ tem sido uma ferramenta nesse caminho, promovendo o olhar empático, compartilhando a gentileza e transformando seguidores em voluntários. Prova disso é o nosso projeto Gerando Bondade, que já contabilizou 10 milhões de visualizações e mais de 40 mil doadores, altamente engajados.

De modo geral, o que todos estão em busca nesta era tecnológica é de algo que traga mais sentido para a vida, e atuar em um projeto social para gerar impacto nas pessoas, satisfaz plenamente esse desejo. Nosso papel é convidar o público a tirar os olhos da tela para observar que o mundo à nossa volta tem muito mais possibilidades para curtir e compartilhar experiências. Fazer o bem vale mais do que qualquer like. Mais do que nunca é hora de engajar e humanizar.

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