Cultura para quê?

Por: Valdir Cimino
03 Novembro 2022 - 00h00

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A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, a gente quer leitura, educação, teatro, saúde, qualidade de vida e felicidade.

Em tempos em que o negacionismo, a guerra e a violência assolam a paz mundial e retardam a sustentabilidade do planeta, não aceitar a realidade empírica é o mesmo que não aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser.

O maior problema da negação em tempos de comunicação ampla e irrestrita é que a maldade e a ignorância multiplicam informações irreais, as fake news, e acabam produzindo novas realidades. As consequências desse processo são, na maioria das vezes, nocivas para a sociedade. Substituir argumentos científicos por crenças, valores individuais ou achismos abre ainda mais abismos culturais, educacionais e sociais. Tudo é uma questão de tempo — aliás, o tempo é o senhor do nosso destino. “Tempo, tempo, tempo…”

A humanidade já passou por situações corrosivas e lamentáveis que deveriam servir de exemplo para nunca mais serem reproduzidas. Para o bem e para o mal, a cultura produzida por uma sociedade é adaptada pela sensibilidade, empatia, signos, palavra, língua, hábitos e rotinas, clima e geografia, pela diversidade humana, que é a maior riqueza e propriedade ímpar do ser. Hoje, estamos no momento do “penso, logo existo”, ou melhor, do “penso, logo sobrevivo em um tempo tão desigual para todos”. Isso tem que mudar. Viver em sociedade é permitir democraticamente que a tecnologia abra espaços para relações humanizadas e integrativas, é estar atento ao consumo cada vez mais consciente, é pensar sobre o mundo que deixaremos para as futuras gerações. Que as nossas ideias sejam agregadoras para uma vida feliz — um desejo profetizado, mas não exercido em sua plenitude.

E, por falar em “penso, logo sobrevivo”, tem gente que não pensa, que deixa os outros pensarem por ela, que segue na ignorância; são pessoas fáceis de manipular nesta mídia globalizada. Tem gente que pensa, mas, por algumas circunstâncias, não se expressa e se instala na dependência. E tem gente que é interdependente, que identifica as várias possibilidades de clarear e transmitir conhecimento que aponte caminhos para o desenvolvimento da responsabilidade pessoal e social. Leonardo Boff faz-nos refletir sobre a importância do respeito cultural de cada ser: “cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam”. “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”.

O ser humano evolui, mas parece que nestes tempos os ponteiros do relógio estão girando em sentido contrário. Precisamos mudar isso! Que tal promover nossa cultura, a grandiosa identidade regional brasileira? Formar leitores, favorecer e fortalecer a literatura? Estimular nossa criança interior com o lúdico criativo e a imaginação possibilita-nos ter mais leveza na vida e nas relações humanas. Termino por aqui, com este texto de Lygia Bojunga, “ A Troca”:

Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida. Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro. De casa em casa eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras. Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação. Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava. Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que no meu jeito de ver as coisas é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava. Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra em algum lugar uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

Referências

Titãs; Comida, Jacques Delors (1998), Caetano Veloso; Oração do Tempo, René Descartes/ 1633, Leonardo Boff e Lygia Bojunga; Livro. Um encontro.

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