A pandemia causada pela COVID-19 causou impacto de grande envergadura nos serviços de saúde, sobretudo na rede hospitalar. Por um lado, exigiu a atuação efetiva de equipes para atuar na linha de frente de combate à doença, atendendo pacientes em serviços de emergência, enfermarias e unidades de terapia intensiva, diuturnamente e, de outro, impôs normas de biossegurança, dentre elas o impedimento de que pacientes hospitalizados recebessem visitas de familiares ou de voluntários, com vistas a garantir o distanciamento e a redução máxima de contatos em nome da prevenção do contágio.
O voluntário é aquele que dedica um tempo da sua vida a serviços solidários que visam intervir junto a demandas de sofrimento, adversidades e carências com o sentido de fazer a diferença para os que são beneficiários das suas ações. No contexto hospitalar pediátrico em oncologia, os voluntários são notoriamente reconhecidos pelos pacientes, pelos seus acompanhantes e pela equipe como agentes promotores de bem-estar e de humanização, fatores estes que contribuem para a melhor recuperação da saúde. Voluntários de um hospital pediátrico promovem visitas aos leitos, recreação lúdica, vínculo, festas comemorativas, ações educativas, grupos, passeios, dentre outros.
A Associação Peter Pan (APP) é a organização cearense que tem seu foco de ação na transformação da realidade do câncer infanto-juvenil e mantém um corpo de 332 voluntários que atuam em vários programas sociais, inclusive na relação direta com pacientes e familiares que vivenciam internação hospitalar e/ou assistência ambulatorial no Centro Pediátrico do Câncer (CPC), em Fortaleza, Ceará. Instituição reconhecida nacionalmente, apoia-se em um processo gerencial de seu voluntariado de forma a estar aberta a inovações que se façam prementes.
O cenário da COVID-19 criou, então, um desafio intenso para a APP, que foi o de ter que se reinventar para respeitar as normas sanitárias e defendê-las em nome da saúde, criando maneiras de manter o voluntariado conectado entre si e com a instituição, desde que de forma segura. Sendo assim, a principal alternativa foi o uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) enquanto ferramentas para o desenvolvimento de trabalhos remotos de qualidade.
No dia 13 de março de 2020, o trabalho voluntário presencial da APP foi suspenso, situação que continua até julho de 2021, quando já se discutem estratégias seguras de retorno, mas ainda a depender da anuência das autoridades sanitárias. Portanto, nesses 16 meses, várias ações têm se configurado como experiências bem-sucedidas, que podem servir de exemplo para o Terceiro Setor e demais instituições que tenham voluntariado, sendo o intuito deste artigo a apresentação das intervenções realizadas de suporte e retenção do quadro de voluntários ativos durante a suspensão da presencialidade e da convivência tão caras às práticas humanizadoras.
Ser voluntário significa ser um ponto de uma rede de apoio e, por meio dela, estabelecer relações de cuidado com os usuários das ações que prestam. Desse modo, o isolamento social foi enfrentado com a ação denominada “Bate-Papo” visando à manutenção do vínculo entre o voluntariado e a APP, e deles com os colegas de missão, no sentido de continuar o sentimento de pertença e conexão. Foi realizado por meio remoto, pela plataforma Google Meet, semanalmente, ocupando simbolicamente a presença deles na instituição. Atualmente, contabilizam-se 41 encontros, cujas temáticas versaram acerca da socialização do talento de cada voluntário, palestras motivacionais com convidados, aproximação e diálogo sobre o contexto hospitalar a partir de fala dos profissionais e sobre a rotina, pensando-se a prática voluntária pós-pandemia.
O gráfico abaixo demonstra a evolução da adesão dos voluntários às ações do Bate-Papo Virtual no período de julho de 2020 a julho de 2021, elucidando uma média de 50 voluntários por encontro.
Outra forma de conexão da rede de voluntários foi a realização de atividades educativas remotas para as diversas habilidades que são demandadas pelos programas sociais. Foram feitas três capacitações, sobre “Formação de Contadores de Histórias”, com 10 encontros: “Vivência: acolhendo a si mesmo e potencializando o seu eu; com 5 encontros” e “Minicurso: tanatologia e abordagem do processo da morte e do morrer. Ao todo, foram 98 voluntários contemplados com essas ações formadoras e de aprimoramento.
Ao final das capacitações, a APP procedeu com avaliação qualitativa por meio de depoimentos. O texto a seguir é um fragmento de uma das devolutivas feitas pelos voluntários ao final da vivência “Acolhendo a Si Mesmo e Potencializando o Seu Eu”: “o curso foi um dos momentos mais importantes que passei em 2021 [...] Foi uma descoberta tão gratificante e acolhedora para a minha compreensão, pois me faz ver que eu precisava de amor, que eu poderia cuidar de mim sem culpa ou cobrança. Ao longo do curso fui ouvindo o depoimento dos colegas e percebendo que a dor do outro era parecida com a minha e que eu poderia sentir essa dor sem culpa [...].
Reforçando a ideia de conexão e pertença que é própria do voluntariado, então, as datas comemorativas mais relevantes exigiram atenção especial de modo que todos fossem lembrados e valorizados. Foi com essa ideia que o Dia Nacional do Voluntariado e o Dia Internacional do Voluntariado, em 28 de agosto e 5 de dezembro de 2020, respectivamente, foram comemorados por um sistema drive-thru, em frente à Associação Peter Pan, com a entrega de souvenires e manifestação de valorização e reconhecimento por meio de mensagens.
A imagem a seguir compôs um cartão de homenagem aos voluntários com ilustração realizada por uma paciente do Centro Pediátrico do Câncer.
Ao se conceber o voluntário como agente social e como pessoa afetada pela crise sanitária, a APP efetivou o acolhimento psicológico remoto, com escuta qualificada realizada por psicóloga da instituição, seguindo as normas do Conselho Federal e Regional de Psicologia. O público-alvo foram os voluntários de todos os programas sociais. A ação funcionou por meio de agendamento, totalizando 85 atendimentos até agora. Para divulgar o acolhimento, foi realizada busca ativa pela coordenação do voluntariado. Os voluntários receberam positivamente esta ação e notou-se que eles, com esse diálogo, sentiam-se acolhidos enquanto vivenciavam sintomas de depressão, ansiedade, preocupação com a doença, com familiares enfermos e até perdas.
Como toda crise, a pandemia causada pela Covid 19 impulsionou a humanidade a sair do lugar-comum e buscar soluções inusitadas para problemas também novos. Toda crise tem aspectos negativos, profundos e que deixam marcas e lutos nas coletividades, mas tem, ainda, oportunidades, esperança e determinação em não desistir de cuidar das pessoas afetadas. Em se falando especificamente do voluntariado, o primeiro movimento foi o de manter a rede conectada, coesa e apoiada. O segundo momento foi planejar com rapidez, apresentar e desenvolver as propostas, que abrangeram eixos desde a capacitação até o apoio à saúde mental. Tudo isso em meio a uma forte determinação de quebra de paradigmas e de usufruto do melhor do que as tecnologias de informação e comunicação oferecem. Portanto, considera-se que se fez do mundo virtual uma possibilidade positiva e que, quando autorizados a voltarem presencialmente, os voluntários terão em si o sentido das suas ações e a sensação de pertença a uma rede preservada.
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