Ao ensinar gestores de organizações sociais como tornar suas entidades mais "empresariais", o contador e advogado Sergio Roberto Monello chega aos 50 anos de atividade plenamente consciente de que fez o possível para desenvolver um modelo administrativo e jurídico totalmente diferente do tratamento que normalmente era aplicado no Brasil.
Em 50 anos de trabalho no Terceiro Setor, especialmente no segmento religioso, Monello dedicou-se, segundo ele, a transmitir conhecimentos, sua vivência de fé e os conhecimentos da profissão, "partilhando-os com meus educandos, com as pessoas que comigo trabalharam e trabalham, enfim, formando as pessoas para a vivência comunitária".
Nesta entrevista à Revista Filantropia, Monello conta como ajudou a transformar a gestão de organizações sociais e faz uma breve análise sobre o atual momento do Terceiro Setor brasileiro.
Revista Filantropia: Ao completar 50 anos de carreira, que balanço faz de sua atuação para o desenvolvimento do Terceiro Setor?
Sergio Roberto Monello: Faz 50 anos que iniciei minhas atividades como profissional da contabilidade, e 40 anos como advogado. Neste tempo, organizei a contabilidade de inúmeras entidades beneficentes de assistência social. Por meio de cursos ministrados para essas entidades, procurei demonstrar o valor da contabilidade e da administração para a boa gestão econômica, financeira e patrimonial.
Concomitantemente, como advogado e professor, despertei o interesse dessas instituições para a organização jurídica. Enfim, foi um papel muito importante, nacionalmente, para a valorização do Terceiro Setor, anteriormente conhecido como setor filantrópico, setor das entidades sem fins lucrativos, setor das entidades beneficentes etc.
RF: De lá para cá, quais foram as principais mudanças ocorridas na gestão das organizações sociais?
SRM: A gestão das organizações sociais passou a ser muito mais profissional, uma vez que se passou a olhar para elas como se fossem empresas.
RF: A partir desta análise, quais heranças (positivas e negativas) os gestores mais antigos deixaram para aqueles que os sucederam?
SRM: As positivas são que essas entidades passaram a gerir suas atividades por meio de planejamento estratégico, organizando planos de ação de atividades, com projetos bem estruturados, em conformidade com sua capacidade econômica e financeira. Assim, em muitas entidades, os gestores deixaram para aqueles que os sucederam organizações sociais organizadas, com estabilidade e organização financeira calcadas em orçamentos bem elaborados, planificados e estruturados.
Do lado negativo, creio que a falta de organização e planejamento desestruturou a vida de muitas entidades sem fins lucrativos. Más administrações e gestões das atividades levaram uma série de entidades a encerrar suas atividades.
RF: Por que escolheu atuar com o Terceiro Setor e se envolver, em especial, com entidades religiosas como a Conferência dos Religiosos do Brasil, os salesianos e a Arquidiocese de São Paulo?
SRM: Os religiosos sempre procuraram manter suas entidades bem dirigidas e organizadas. Tanto os dirigentes da Conferência dos Religiosos do Brasil, dos Salesianos de Dom Bosco e da Arquidiocese de São Paulo sempre tiveram a preocupação com a boa gestão de seus negócios. Todos os princípios administrativos são disciplinados pelo Código de Direito Canônico (CDC) e pela Carta Circular com Orientações para a Gestão dos Bens nos Institutos de Vida Consagrada e nas Sociedades de Vida Apostólica, emitida pela Congregação para essas entidades.
RF: Faça um resumo de sua trajetória profissional. O que tirou de mais positivo de cada momento de sua carreira e que hoje consegue transmitir para os mais jovens?
SRM: Minha vida profissional se fundamentou no exercício de três profissões: advogado, contabilista e professor. Entretanto, faço parte da Família Salesiana, como salesiano cooperador. O salesiano cooperador é cristão/católico, leigo, comprometido a viver intensamente a vocação salesiana ao lado dos jovens, ou seja, estar com os jovens em sua promoção e formação cristã, e, consequentemente, na conquista de sua cidadania.
Portanto, minha vida foi sempre dedicada à formação de jovens e adultos. Assim, pude ajudar a conscientizar muitos jovens sobre alguns aspectos fundamentais: Deus – centro de vida de todas as pessoas, mesmo aquelas que nele não acreditam; Valor da Vida – um dom precioso que Deus nos concedeu; Família – "cellula mater da sociedade", que se constitui no fundamento e na essência de uma sociedade efetivamente organizada; Profissão – elemento de liberdade e de valorização da pessoa humana; e Emprego – patrimônio de todos aqueles que trabalham.
Assim, minha vida foi transmitir meus conhecimentos, minha vivência de fé e vivência dos conhecimentos de minha profissão, partilhando-os com meus educandos, com as pessoas que comigo trabalharam e trabalham, enfim, formando as pessoas para a vivência comunitária.
RF: Que análise faz do atual momento vivido pelo Terceiro Setor brasileiro, em termos de gestão, transparência e atuação?
SRM: Posso afirmar que este momento é importantíssimo para o Terceiro Setor. A própria sociedade, conscientizada de seus valores, exige gestão eficaz, transparente e com atitudes claras, precisas na gestão e na atuação do desse setor no país.
RF: Como o senhor tem percebido o impacto da crise financeira no caixa das organizações sociais, inclusive com a diminuição do volume de doações?
SRM: A crise atual, por total incompetência dos gestores do Estado, atinge a sociedade como um todo. O impacto da crise financeira aumentou a miséria em nosso país e, consequentemente, passou a exigir das organizações sociais mais empenho no atendimento de suas finalidades institucionais. As entidades passaram a ter menos recursos para o atendimento de seus projetos assistenciais e o Estado, não cumprindo com sua missão participativa, enfraqueceu-as, desestimulando a sociedade a colaborar com recursos para essas instituições.
É realmente um estado de calamidade pública pelo qual passam as organizações sociais, visto que a incompetência dos gestores públicos levou a tal situação. As organizações sociais e seus gestores fazem o que podem para que o sofrimento que atormenta as pessoas mais pobres e carentes não seja ainda mais agravado.
RF: O que recomenda para os jovens gestores terem sucesso na administração das organizações sociais e que sugestão dá a eles para evitar erros geralmente cometidos por principiantes?
SRM: Os jovens gestores devem trabalhar sob diretrizes administrativas fixadas pelas organizações sociais, com base em estudos de sua realidade econômica e financeira, com planejamento estratégico bem elaborado, observando e cumprindo rigorosamente seus orçamentos.
Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?
Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:
(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)
(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)
(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)
(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)
(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)
(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)
Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:
Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil: