Um dos maiores desafios das organizações não governamentais é conseguir recursos para continuar ou ampliar seus projetos. Em virtude dessa demanda fundamental, uma ONG não pode depender apenas do patrocínio dos poderes públicos, nem contar somente com o auxílio de empresas ou de grandes e poucos doadores individuais. Sem dúvida, tais apoios são muito importantes e bem-vindos. Contudo, a ONG deve construir também uma base considerável de pequenos e médios doadores individuais, cuja contribuição recorrente favoreça o sustento de suas atividades.
Uma instituição e as causas que ela defende não conseguirão subsistir por muito tempo somente ‘apagando incêndios’, isto é, promovendo uma vultosa captação de recursos junto a empresas ou a grandes doadores, quando o dinheiro rarear na conta. Na verdade, a chamada captação de doações recorrentes é a forma mais profissionalizada de garantir a sobrevivência das organizações que defendem causas. Por isso, estas precisam envolver mais doadores que contribuam regularmente com elas.
Segundo estudos, após um período de consolidação na busca por novos apoiadores recorrentes, essa fonte tem uma característica extraordinária: o crescimento orgânico constante. Em longo prazo, a ONG normalmente arrecadará mais dinheiro. E com doações regulares, ela poderá planejar despesas e ter mais segurança sabendo que poderá contar com a renda. Por outro lado, doações recorrentes também são melhores para o doador, pois ele pode fazer contribuições menores que se encaixem em seu orçamento a cada mês, em vez de uma grande quantia pontual
Além de ser ótima fonte de recursos, uma base de doadores individuais constantes representa um elemento fundamental para qualquer organização: a legitimidade. Sim, é importante envolver a pessoa que não assina um cheque em nome de alguma empresa nem governo, mas um cheque seu, uma doação que sairá do próprio bolso. E quanto mais doadores, mais legítima será uma ONG, pois foi capaz de demonstrar a importância de sua causa para um número significativo de pessoas.
Dados e estatísticas comprovam a oportunidade e a conveniência dessa carteira de doadores individuais, independentes de convênios com governos e empresas. Pesquisas especializadas demonstram que as ONGs são consideradas pela maioria do público como necessárias para combater problemas sociais e, ao mesmo tempo, idôneas e competentes para aplicar de forma efetiva seus benefícios. Cerca de dois terços da população concordam que o fato de doar para uma entidade pode fazer alguma diferença. Isso revela um potencial significativo a ser explorado pelas ONGs, no sentido de constituírem uma carteira baseada nessa fonte de renda. Dado animador que importa frisar, no caso específico do Brasil, as mesmas pesquisas demonstraram que o montante de contribuições provenientes dos doadores individuais somam, anualmente, recursos na ordem de bilhões de reais. (cf. Pesquisa doação Brasil - IDIS/Gallup)
Ainda se atendo ao cenário brasileiro, a característica tendência para a solidariedade deste povo o tem levado gradativamente a modificar seus hábitos de doação. Se, até algum tempo atrás, o indivíduo preferia ser um “doador anônimo”, hoje já procura ser um multiplicador de adesões, tornando-se um propagandista e angariador de novos adeptos para a causa defendida pela ONG que ele apoia. Essa mudança de mentalidade é fundamental e constitui outra grande aliada na arrecadação de recursos junto aos pequenos e médios contribuintes.
Oportuno reiterar que a formação de uma ampla rede de colaboradores baseia-se, antes de tudo, no relacionamento vívido e pessoal com o doador. Ele é, sem dúvida, o melhor investimento que a ONG deve fazer para conseguir a legitimidade e a sustentabilidade necessárias para alcançar seu pleno desenvolvimento.
Nesse sentido, é crucial que as organizações estabeleçam estratégias de abordagem adequadas para levar ao sucesso essa relação com seu colaborador. O que inclui, não só o caráter pessoal do trato com ele, mas também a transparência na demonstração do uso feito com o dinheiro dele. Saber que sua doação foi bem empregada é o melhor estímulo para levá-lo a repetir seu desejado gesto de solidariedade.