A Dona Da Bola

Por: Luciano Guimarães
19 Novembro 2017 - 00h00

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Apresentadora do Esporte Espetacular, da Rede Globo, e dos programas Papo de Almoço e Convocadas, ambos da Rádio Globo, a jornalista carioca Fernanda Gentil é uma das personalidades mais influentes do país, posição que tem sido decisiva para o sucesso das ações da Caslu, ONG que ajudou a abrir em outubro de 2013.

Sediada no bairro de Jacarepaguá, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, a entidade iniciou suas atividades a partir de uma campanha realizada no Natal de 2013, no Instituto Nacional do Câncer (Inca), centro de referência de assistência de alta complexidade em oncologia.

Caslu é um anagrama de Lucas, primo e afilhado de 9 anos que Fernanda cria desde 2009, após o falecimento de sua tia Adriana, vítima de câncer. Aos 30 anos de idade, é mãe de Gabriel, de 2, fruto do casamento com o ex-marido Matheus Braga, um dos cofundadores da instituição.

Até hoje, a organização sem fins lucrativos da jornalista já ajudou 1.875 crianças e adolescentes de 12 instituições, revertendo em produtos e serviços 100% do dinheiro arrecadado com a venda de camisetas. Esta é única fonte de recursos da entidade.

Em entrevista à Revista Filantropia, Fernanda fala a respeito de sua ligação com Terceiro Setor, da origem da Caslu e da sua vontade de transformar a vida de crianças e adolescentes, afinal "todo ser humano tem o dever de ajudar outro ser humano", afirma. Confira!

Revista Filantropia: Como se deu a fundação da Caslu, fale um pouco da história dela?

Fernanda Gentil: Começou depois que perdi a mãe do meu afilhado, minha grande amiga. Eu, Matheus Braga (meu ex-marido), Felipe Cantieri e Patrick Lopes (amigos de infância) então pensamos em fazer algo pelas crianças que vivem a mesma realidade que ele por não terem a mãe biológica perto, mas não tiveram a sorte que ele tem de ter um pai incrível e estar em uma família que o acolheu e o ama demais.

RF: Quantos colaboradores trabalham e como é realizado o trabalho?

Fernanda: Normalmente vamos para as ações com 30 voluntários. No dia a dia somos quatro e nos revezamos entre as funções de contabilidade, financeiro, divulgação, recebimento e envio de pedidos, planejamento de ações etc.

RF: A Caslu não doa dinheiro, mas benefícios pré-definidos. Como se dá esse repasse de recursos?

Fernanda: Sim, 100% revertidos em doações para estas instituições que cuidam de crianças e adolescentes, mas nunca em dinheiro; revertemos o dinheiro arrecadado com a venda das camisas em produtos (alimentos, produtos de limpeza, material escolar etc.) e serviços (obras, reformas etc.).

RF: Quais são os principais projetos em andamento?

Fernanda: Agora estamos focados na campanha do Dia das Crianças. Estamos decidindo qual orfanato ou abrigo vamos ajudar. A partir daí começa todo o processo de produzir a campanha; as atividades que vamos fazer com as crianças, recrutar voluntários, correr com a venda das camisas para arrecadar o máximo possível, e enfim, comprar as doações para levar à instituição.

RF: Quantas crianças são ajudadas e em quantas entidades?

Fernanda: Depende, a cada campanha ajudamos novas instituições e cada uma delas atende certo número de crianças e adolescentes. Até hoje já ajudamos 1.875 crianças de 12 instituições diferentes.

RF: A ONG tem parcerias com empresas? Quais e que tipo de parceria?

Fernanda: Não, nenhuma. Fazemos parcerias pontuais apenas quando fechamos alguma ação especial, como já fizemos algumas vezes no boliche, nos cinemas etc.

RF: Você acredita que pessoas com elevado grau de destaque e credibilidade, como é o seu caso, têm a responsabilidade de contribuir socialmente e de serem bons exemplos ao público e de que maneira?

Fernanda: Acho que todo ser humano tem o dever de ajudar outro ser humano. Somos da mesma raça, viemos do mesmo lugar e vamos todos para o mesmo lugar. Isso deveria ser orgânico, natural. Me sinto ainda mais neste dever por trabalhar com o que trabalho e através disso, ter uma grande visibilidade. Sempre digo que se a fama tem um lado bom, é poder falar em massa, então que a gente fale COISAS BOAS em massa, que a gente passe mensagens positivas, alegres e ajude da maneira que for possível.

RF: Você acredita que a participação de personalidades reconhecidas pelo público estimule o engajamento social? Fale um pouco dessa experiência no Terceiro Setor.

Fernanda: Com certeza ajuda. Ajuda a dar visibilidade a algum projeto legal, ajuda a dar o exemplo, ajuda a mostrar como faz bem olhar para o próximo. E ajuda principalmente a plantar a sementinha do bem dentro de cada um. Hoje eu posso falar com toda propriedade: o trabalho voluntário é um caminho sem volta. Quando o bichinho da boa ação te pica, você, felizmente, estará contaminado para o resto da vida.

RF: Qual é sua visão sobre o Terceiro Setor no país? Como você compreende a atuação das organizações sociais no Brasil?

Fernanda: Acho que está crescendo, mas podemos ser muito maiores. Falta visibilidade, e muitas vezes, transparência. As pessoas têm que ter confiança e garantia de que vão ajudar uma causa e o recurso que ela investir vai realmente para aquela causa. Mas fico muito feliz de ver quantas iniciativas estão nascendo no Terceiro Setor e principalmente quantos jovens estão envolvidos nelas.

RF: Em sua opinião, qual é o maior problema social existente no Brasil? Como ele poderia ser resolvido?

Fernanda: Acho que é a distância entre quem pode ajudar e quem precisa ser ajudado. A gente acha que as manchetes dos jornais e revistas estão acontecendo em uma realidade muito distante da nossa, mas não; elas estão na esquina da nossa casa. Na nossa rua, no nosso bairro. Em todos os lugares alguém precisa de uma ajuda que a gente pode dar.

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