Nosso futuro parece confirmar o que os diretores de cinema previram há tempos: será um período sombrio, hostil e distópico. Como Nostradamus contemporâneo, a maioria dos cineastas, ao abordarem nosso devir, sempre invocaram uma terra arrasada, almas estéreis e, confirmando os armagedons da história, muitas explosões, falta de água, mortos-vivos... enfim, choro e ranger de dentes.
Sempre pensei no juízo final como um grande espetáculo cinematográfico: um cenário composto por querubins, cavalos brancos e alazões impecáveis, entre os clarões e ressuscitamentos em profusão, tudo ao som de clarins estonteantes, no exercício de barrocas notas musicais.
Nesse momento de construção de nosso futuro, século XXI, ano de 2017, já somos assaltados pela tecnologia que, a princípio, tornaria tudo mais leve, veloz, clean. Uma rede de dados em fibra ótica e alguns hologramas poderiam suprir tamanha movimentação física. Em um backup celestial de ectoplasmas cintilantes, seria suscitada uma experiência de neonecromancia, resultando avatares de amostra para os zil bilhões de mortos e vivos a serem logados, catalogados e julgados. A apuração seria mais rápida do que das eleições para a Prefeitura de Curitiba (PR). Um prodígio. Certamente mais uma social solução do Altíssimo.
Um Oscar seria pouco para esse momento de inédita sofisticação pela direção de arte, roteiro adaptado e montagem. Sem falar na direção geral, nesse caso, hors concours.
Mas eis que essa dita tecnologia ainda nos reserva trechos excruciantes desse roteiro, ainda em vida, sem película. Temos à moda da tecnologia um prenúncio de convivência aperreada, combalida e submetida aos dispositivos em voga. Cada caixinha de metal com seus desígnios e poderes permeando as decisões, os bons-dias, as relações de nossa espécie, agora governada pelo algoritmo inventado na sua essência pelos persas. Celulares, smartphones, ultrabooks, PDAs etc., como gerenciadores, intermediadores inteligentes de nossa organização social.
O ato de conviver, mais uma vez na história da humanidade, parece que será modificado radicalmente. Se já o fizemos por grunhidos, inscrições rupestres, narrativas verbais articuladas, tipos e prensa móvel, artes plásticas, imagéticas e sonorização moderna, agora teremos como mediadores de nossas vontades e sorrisos uma versão quase intangível no seu jeito de se expressar. Quando nos dermos conta, o estrago já estará feito.
Convivência nos exigirá novas tensões em agradar, provar aceitação, simpatia e utilidade mútua. Segundo se pressagia, será nosso mais aproximado futuro. Seremos – ou já somos, ou ainda estamos em adiantado estado de assim estarmos –, governados por uma maioria sem rosto, sem eleição, sem lógica coletiva, produzida pelas milhões de máquinas instantâneas de aprovação ou não de nossas atitudes. Será o momento que os cultos da sociologia agora chamam de "mundo da pós-verdade".
O mais poderoso dos governantes, ainda que rei, prefeito ou primeiro ministro, será governado por uma forma inescrutável de vontades manifestadas pela não menos prosaica e remota forma de voto: os likes.
Já se vê que o modelo antropocêntrico de análise da sociedade começa a perder peso, fôlego e consistência. Não mais será o homem (aqui entendido pelo sentido de ser humano) que será a medida de todas as coisas, mas o atributo de uma forma quântica, coloidal, líquida e transbordante que dará as cartas na vida de qualquer um de nós.
Como anunciante e sistematizadora dessa versão, as séries de televisão a cabo saem do romance moderno e do "eu te amo" ao por do sol, para vigorosamente instituir o "te aceito, se me aceitares" virtual. Uma anomalia da modernidade que pode ser nossa salvação na pós-verdade. O céu está sob suspeita na sua forma de paraíso eterno.
A democracia nessa conversa nos distanciará mais ainda dos gregos, porque, segundo essa cartilha, esta estará em derrocada em espiral e a formatação de Estado, sob qualquer análise histórica sucumbirá no buraco de silício mais próximo do servidor-mór.
Se for verdade que queríamos encontrar um rumo alternativo na convivência em sociedade, já começamos a produzir o novo caos para as novas mitologias, os novos fótons das máquinas que nós mesmos propomos para nos facilitar falar a distância e seremos tragados pelo arbítrio que não ousa ainda dizer seu nome completo.
Bem, como sabemos também, dessas filigranas históricas já sonhamos com o fim do mundo no ano 2000 (minha geração), com o fim dos tempos com o calendário Maia em 2012 (geração X), a invasão dos ETs (vide Roswell), bug do milênio, hackers perversos e outras bruxarias cibernéticas. Sobrevivemos a todas.
Quem viver verá essa novidade a caminho, e teremos a nosso favor aquele arrepio eficaz de sempre, aquele déjà vu estranhoso, aquela sensação inenarrável de ser humano diante do precipício, da flor de lótus ou de um vulcão em erupção.
Nossas garantias são as de sempre e a perfeição de nossos defeitos há de queimar as sementes do mal e o amor será eterno novamente, no triunfo da poesia de Nelson Cavaquinho. Mas não se esqueça daquele like para o texto. Só por garantia de nossa convivência agora.
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