Em meu artigo anterior, aqui na Revista Filantropia, defendi que o sucesso da captação de recursos de uma organização está diretamente ligado à sua governança. Em especial, falei da importância dos Conselhos de Administração (CA) e reforcei que todas as organizações deveriam tê-lo, assim como já acontece no Terceiro Setor no mundo todo – e em inúmeros bons casos também no Brasil. Neste texto, vou avançar um pouco mais no tema, apresentando as responsabilidades dos Conselhos de Administração, e também o perfil que deverão ter os conselheiros que vão ocupá-los.
Começo relembrando a definição de Conselho de Administração, que se constitui como um órgão colegiado que detém as atribuições que não são exclusivas das assembleias gerais (AG), sendo formados para garantir uma instância de deliberação interna que não dependa da AG e que permita às organizações terem agilidade no processo de tomada de decisões estratégicas.
O CA é um órgão tão importante para as organizações, que suas responsabilidades são muitas, conforme nos ensina o Guia das Melhores Práticas para Organizações do Terceiro Setor: Fundações e Associações1, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC):
São inúmeros os itens listados, e faço a referência a um deles, que nos é muito próximo: envolver-se na mobilização de recursos. De fato, o trabalho de captar recursos para as organizações começa no Conselho, e é fundamental que os conselheiros entendam seu papel vital na garantia da sustentabilidade financeira das instituições. Voltarei a este tema logo adiante.
Das responsabilidades do Conselho de Administração, há uma que está claramente ausente: ele não se envolve com a operação. Conselheiros não devem participar do dia a dia da organização, que é de responsabilidade da equipe executiva – do diretor executivo e demais colaboradores.
Esta é uma característica importante e fundamental para os CA, para garantir que haja uma separação clara entre os papéis, e para todos tenham liberdade de atuar dentro de suas responsabilidades.
Para que isso aconteça, o processo de escolha e definição de quem serão os conselheiros é de suma relevância: se ele for mal realizado, a organização não terá conselheiros alinhados com ela, o que resultará em prejuízo direto para seu desenvolvimento.
Segundo o Guia das Melhores Práticas, devem ser considerados os seguintes atributos no processo de seleção dos conselheiros:
Além dos atributos que são importantes para que a organização defina com mais propriedade quem serão os seus conselheiros, estes também precisarão entender as responsabilidades que terão no cargo e que podem ser listadas como:
Observe que, novamente, não há menção a atuar no dia a dia da organização, na operação dos projetos. Porém, dessa vez, há a clara afirmação de que os conselheiros devem se engajar na sustentabilidade financeira da organização, inclusive doando: sim, os conselheiros devem ser os primeiros doadores, "puxando a fila" e servindo de exemplo para todos.
Responsabilidades do Conselho de Administração, atributos dos conselheiros e suas responsabilidades no cargo. Foram os três itens abordados neste artigo, em que sigo desenvolvendo o tema da governança nas organizações da sociedade civil e sua relação com a captação de recursos, e que darei continuidade em nosso próximo encontro na Revista Filantropia.
1BGC. Guia das Melhores Práticas para Organizações do Terceiro Setor: Associações e Fundações. 2016. 136 p. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/userfiles/2014/files/Arquivos_Site/GUIA_3SETOR_2016.pdf>.