Mais de 650 profissionais desembarcaram em Recife, de 10 a 13 de abril, para discutir as melhores práticas para a profissionalização das ONGs
O ano era 2014 e a cidade Natal, no Rio Grande do Norte. Naquele ano e naquela cidade, a Rede Filantropia plantou uma semente riquíssima de conhecimento e começou a estruturar o maior evento de filantropia do Brasil, o FIFE - Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica. O maior? Sim, com toda certeza e números possíveis. Em 2018, a capital de Pernambuco recebeu de braços abertos mais de 650 profissionais do Terceiro Setor para quatro dias extremamente produtivos de palestras e capacitações. Foi a quinta e a maior edição do FIFE. A semente brotou, virou muda e hoje floresce no campo do Terceiro Setor, provendo frutos inimagináveis para seus participantes. No ano passado, a expectativa já estava alta, como uma Sumaúma, quando 96,6% dos participantes do FIFE de Foz do Iguaçu (PR) demonstraram interesse em se deslocar para Recife no ano posterior. Para quem acredita na filantropia estratégica, não existem limites, nem distância. Qualquer cidade do Brasil é logo ali. Portanto, prepare as malas e comece a se organizar. O FIFE 2019 será no Rio de Janeiro. Antes de falar da próxima edição, vamos manter o foco em 2018 e deixar a ficha cair, afinal, a Rede Filantropia conseguiu consolidar o FIFE como o maior evento do segmento do Brasil. Em cinco anos, o nosso amigo virou um gigante.
Para quem viu a criança nascer, a satisfação de ter reunido ao longo dos anos mais de 2,5 mil profissionais para falar sobre diferentes temas que envolvem o Terceiro Setor é algo ímpar. “Ficamos muito satisfeitos em poder contribuir com a gestão e atualização das organizações sociais do nosso país, reunindo interessados pelo assunto e representantes de ONGs de diversos tamanhos e que atuam com diferentes temáticas, como é o caso das sociais, culturais, ambientais, educacionais e de saúde. No FIFE tivemos a oportunidade de promover networking de qualidade e colaborar para que os participantes aproveitem para se desenvolver ainda mais e fechar novas parcerias”, afirma Marcio Zeppelini, presidente da Rede Filantropia e editor-chefe da Revista Filantropia.
A programação do FIFE abordou temas essenciais para a boa gestão das organizações, entre os quais Compliance nas organizações do Terceiro Setor; Tecnologia e segurança da informação; Investimento social privado e engajamento de empresas; Captação de recursos e marco bancário; e Reforma trabalhista e seus desdobramentos no setor social. Para repassar todas as informações cruciais sobre os macrotemas, a Rede Filantropia reuniu mais de 60 palestrantes. O evento contou com a presença de grandes nomes, como: Marcelo Ortega (especialista no desenvolvimento de técnicas de aumento de produtividade), Steven Dubner (graduado em educação física, especializado em esporte para as pessoas com deficiência), Airton Grazzioli (promotor de Justiça e curador de fundações da capital desde 2005) e Michael Nolan (coordenadora da Congregação das Irmãs de Santa Cruz, assessora das Pastorais Sociais e assessora jurídica do Conselho Indigenista Missionário - CIMI e da Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras).
De acordo com Thaís Iannarelli, diretora executiva da Rede Filantropia, o FIFE é uma oportunidade única no decorrer do ano de ter acesso a um conteúdo de extrema qualidade, comandada pelos principais especialistas do Terceiro Setor. “Realizamos mais de 100 atividades ao longo de quatro dias, reunindo palestrantes e painelistas nacionais e estrangeiros para oferecer muito conhecimento e relacionamento. Os especialistas compartilharam cases sobre legislação, captação de recursos, contabilidade, comunicação, administração, voluntariado, tecnologia e assistência social”, relembra a dirigente.
A programação do FIFE 2018 começou com a Aula Magna DDO - Diagnóstico de Desenvolvimento Organizacional - Tutoria em Rede, que foi ministrada por Danilo Tiisel. A sala estava lotada logo nos primeiros minutos da tarde. Na sequência, os participantes se deslocaram para o auditório principal do Centro de Convenções Pernambuco para a cerimônia de abertura, que contou com a apresentação da Orquestra Criança Cidadã. Depois foi a vez do palestrante Marcelo Ortega subir ao palco e dar uma injeção de ânimo aos participantes. Ele abordou o tema “Precisamos ter empatia para fazer um trabalho de sucesso” e encerrou a programação do primeiro dia de FIFE com chave de ouro.
O segundo dia do FIFE começou a mil por hora. Com o tema “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”, o palestrante Steven Dubner contagiou a todos com a sua apresentação super energética. Cheio de bom humor, o brasileiro - com nome e sotaque de gringo - mostrou o alto rendimento de atletas com deficiência. Para ele, o esporte é a melhor maneira de socializar. Motivação extra para começar a programação. Após a palestra, tiveram início as sessões de debates, sendo o primeiro tema “Compliance nas organizações sociais: importância e realidade das instituições nos tempos atuais”. Três especialistas no assunto (Ricardo Monello, Carla Regina Baptista Oliveira e Luis Fernando Nóbrega) mostraram como implantar ferramentas para combater a corrupção em organizações sociais, além de apresentar diversas modificações na legislação brasileira que podem afetar no dia a dia de quem atua no Terceiro Setor.
Na sequência, Luciano Pires subiu ao palco para apresentar “A fórmula da inovação - diferencial para destacar sua causa”. O profissional reforçou que a percepção de valor e a reputação das organizações sociais são importantes para que seu trabalho não seja lembrado apenas por ser mais um. O segundo debate do FIFE 2018 mexeu no “bolso” das organizações sociais. Com o tema “Marco bancário e seu impacto na captação de recursos”, os fifeiros tiveram acesso a informações sobre a pesquisa Doação Brasil, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), e como seria o cenário futuro do Terceiro Setor se os bancos e políticas públicas entendessem que doação é diferente de pagamento. Um tema denso, mas que precisa evoluir para que as arrecadações cresçam ano a ano.
O período da tarde foi marcado por sessões paralelas de temas variados - foram 9 salas temáticas abordando nuances da Contabilidade, Legislação, Captação de Recursos, Comunicação e Marketing, Voluntariado, Tecnologia, dentre outros temas. Integrantes da Rede Filantropia selecionados via Edital também fizeram suas apresentações no período da tarde.
Recomeça o jogo! O terceiro dia do FIFE 2018 iniciou com a palestra magna “Triple Bottom Line: como garantir a sustentabilidade socioambiental e econômica das empresas”, conduzida brilhantemente por Aron Zylberman, do Instituto Cyrela. O professor encantou a todos com a sua didática na fala e poder de oratória. Se não fossem as palestras, poderíamos afirmar que o terceiro dia do FIFE seria repleto de debates - foram três discussões ao longo do dia. O primeiro abordou “Tecnologia e segurança da Informação: as ONGs não estão imunes!” e contou com a presença de Cláudio Ramos, Elias Abdala Neto e José Matias Neto. Os profissionais apresentaram diferentes técnicas para manter a segurança dos dados que estão em poder das ONGs e como elas podem estar vulneráveis se não investirem nesse departamento. Fica aqui a reflexão: você está imune? O segundo debate do FIFE 2018 foi sobre “Imunidade Tributária das Contribuições Sociais” e contou com a presença dos especialistas no assunto Guilherme Reis, Marcos Biasioli e Warley Dias. Asopiniões divergiram muitas vezes em relação a alguns temas, mas uma colocação foi unânime entre todos os participantes: o e-Social ajudou a acabar com as “pilantropias”.
Investimento social privado no Brasil: O que motiva os investidores sociais a se engajarem na sua causa. Esse foi o tema do último debate do terceiro dia do FIFE 2018. Os fifeiros refletiram sobre os diferentes gatilhos que motivam o repasse de recursos. Será que a sua organização social está se comunicando corretamente com a sociedade? Você é transparente na sua atuação? É preciso saber se expressar para atrair recursos. O painel foi mediado por Felipe Mello e contou com os especialistas Lírio Cipriani, um dos idealizadores do Instituto Avon, e Mariana Moraes, do GIFE.
Enxergando o melhor da vida. Foi com este tema que o deficiente visual, jornalista e palestrante Fernando Campos esbanjou alegria e contou sobre os seus aprendizados e histórias de superação desde pequeno, quando, aos dois anos de idade, foi diagnosticado com um câncer de retina que o fez parar de enxergar. “O bom guerreiro não é aquele que ganha todas as lutas, mas quem não foge à luta. Cada um tem sua limitação, mas juntos há a superação”, disse Fernando durante sua apresentação, que abriu os trabalhos do quarto e último dia de FIFE. Com uma bela lição de vida e fazendo o auditório dar boas risadas, Fernando apresentou o seu método de vida, baseado na sigla TA: T de tranquilidade, para conseguir lidar e, quando possível, sanar os problemas; e A de alegria, já que sem ela os sentimentos ficam sufocados. “Sou cego. Muitas vezes isso na minha vida foi um problema, mas toda vez que me revoltei, tive dois trabalhos: de me revoltar e de me ‘desrevoltar’. Toda vez que enxerguei a vida com alegria e vi isso com oportunidades, me dei bem! Quando a gente tem o olhar da alegria pra vida, as coisas boas acontecem e a gente só tem a ganhar!”
Após a apresentação de Fernando Campos, foi a vez do economista Ladislau Dowbor ministrar uma palestra cheia de números e muito conteúdo. “Em 2017, mais de 61 milhões de adultos do Brasil estavam negativados. Se considerarmos as suas famílias, podemos dizer que mais da metade da população brasileira estava nesta situação.” O choque de realidade deixou a plateia ainda mais motivada a promover o bem. Na ocasião, Ladislau aproveitou para apresentar novo livro: A era do capital improdutivo.
“Ao investir em projetos, as empresas perdem o controle sobre o destino do recurso e o acompanhamento dos resultados. Os proponentes geralmente não retornam aos investidores com resultados e prestação de contas.” Esta consideração fez parte da apresentação de Marcia Alcazar, presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, durante a sua palestra “Relacionamento entre gestores e contadores para a eficiência do trabalho das ONGs”. Ela também deu dicas valiosíssimas para a contratação de contadores especializados no Terceiro Setor:
De Barcelona para o Brasil, Marcelo Estraviz, com mais de 20 anos realizando palestras no Brasil e no exterior, compartilhou seu conhecimento já na reta final da programação. “Nosso cotidiano é uma mistura de vida de labirinto, sem respostas, com vida de abundância, com muitas conexões. Isso tem muito a ver com captação de recursos. Se eu estou sozinho no labirinto, não vai ser fácil encontrar recursos, mas se vivo em um mundo de conexões, percebo que há muitas possibilidades e pessoas para me ajudar a chegar ao desejado”, disse Marcelo durante a apresentação.
O quarto e último dia do FIFE fechou com chave de ouro. O grand finale contou com a presença de Leila Navarro, uma das maiores palestrantes do Brasil. Espetaculosa, divertida e estimulante. Assim foi a tão aguardada palestra da exuberante Leila, que transmitiu a sensação de missão comprida e cumprida para todos os envolvidos no evento. Que fique aqui registrada a sua mensagem principal: felicidade é a palavra-chave da vida e dos resultados e ter coragem é agir com o coração.
O FIFE 2018 finalizou com o anúncio da cidade sede do próximo ano. Como já antecipado no início da reportagem, a Cidade Maravilhosa será o palco do FIFE 2019. De 9 a 12 de abril, o Centro de Convenções SulAmerica (Avenida Paulo de Frontin, 1 - Cidade Nova - Centro) receberá os fifeiros de todo o Brasil. Será a maior edição do FIFE? Quem viver, verá! Para mais informações acesse www.fife.org.br.
O FIFE 2018 e a Rede Filantropia carregam em sua essência e DNA o poder de disseminação de conteúdo para a profissionalização do Terceiro Setor. Os mestres de cerimônia do evento, porém, trouxeram algumas reflexões que foram divididas com os fifeiros. Veja abaixo:
“As ONGs precisam se especializar em leis, tecnologia, compliance, contabilidade, marketing... ok, mas nós não podemos nos esquecer do nosso propósito, as causas que defendemos. Não podemos deixar de receber repasses, ainda que venham com metas de desenvolvimento, porque as empresas acham que não temos organização em nossa infraestrutura. Sem investimento é complexo se desenvolver. E sem desenvolvimento não vem investimento. Cabe também a nós, como ONGs, saber olhar para empresas de pequeno e médio portes, assim como pessoas físicas, para captar recursos. E cabe às empresas entender que as ONGs estão em diferentes estágios de maturidade.” Felipe Mello - do Canto Cidadão
“As OSCs estão preocupadas - e com razão -, com contabilidade, leis, captação de recursos, entre outros temas, mas não podem se esquecer que são as PESSOAS que fazem tudo isso acontecer. O voluntariado é uma importante porta de entrada para pessoas nas organizações. Ter uma pessoa referendando sua organização é fundamental e muito importante. Precisamos nos preocupar com a formação de gente e aproveitar a essência delas para aprimorar as relações de que tanto temos nos afastado.” Roberto Ravagnani - Palestrante, consultor e treinador
Apenas 0,49% das empresas com lucro real aproveitam o benefício proporcionado pelo incentivo fiscal. E considerando pessoa física a situação é ainda mais alarmante: 0,19%. Dá pra acreditar no potencial que ainda é possível explorar e em quanto podemos crescer e nos desenvolvermos em termos de captação de recursos? Fica aqui uma provocação: o que você ou sua organização pode fazer para mudar isso?
Oi, Rio! Tudo bem?
Ficamos sabendo que você continua lindo. Não sei se você sabe, mas, você, que era de janeiro, fevereiro e março, agora, também é de abril. Pois sim. Escolhemos você para sediar o nosso evento, o FIFE. De 9 a 12 de abril de 2019, estaremos por aí. Alô, alô Terezinha, seu Chacrinha, Torcida do Flamengo e todos os profissionais engajados do Terceiro Setor. Estamos chegando! Abram alas porque o Centro de Convenções SulAmérica será a nossa Sapucaí e o Brasil todo vai desembarcar por aí - para se capacitar na cadência bonita do samba. Para a apuração, esperamos muito mais do que nota dez. Queremos ultrapassar os nossos limites e bater o nosso recorde de público. Que o Cristo Redentor nos receba de braços abertos e que a nossa experiência seja linda e doce, como o Pão de Açúcar. Até mais, Rio. Aquele abraço!
Veja abaixo os depoimentos de quem fez história participando da quinta edição do FIFE.
O FIFE 2018 capacitou mais de 650 pessoas. E se falarmos dos palestrantes, profissionais especializados que estiveram aqui, são quase 100. Então imagine só a quantidade de conhecimento, networking e parcerias que foram formadas, fomentando cada vez mais o Terceiro Setor.
Thais Medina
“A primeira coisa que me chamou atenção no FIFE foi ter a palavra Estratégica em seu nome porque já demonstra que tem algo diferente e passa a deixar de lado o altruísmo do ser humano e entende como ferramenta para evolução da sociedade. Eu não fazia ideia do tamanho do evento e foi muito legal, porque Filantropia tem a ver com conexão de pessoas e foi isso que eu vi por aqui. Falar sobre inovação foi um prazer e espero participar outras vezes”.
Luciano Pires
“Quando a sociedade civil se organiza pela base, controlando recursos que tem, isso melhora o funcionamento das empresas, porque passam a ser mais controladas. Filantropia dessa maneira é a forma racional de fazer a sociedade funcionar. Temos que aproximar a democracia política e econômica porque o dinheiro na base serve àquilo que a sociedade precisa”.
Ladislau Dowbor
“Vivemos em um mundo em que as pessoas não percebem umas às outras. Eu sou fruto dos meus relacionamentos. Muitos mentores passaram na minha vida e me fizeram o bem. Nada melhor do que propagar essa ideia. Filantropia é fundamental”.
Marcelo Ortega
“Fiquei muito impressionado com a organização e com a pontualidade das palestras. O Terceiro Setor cresce a cada ano e temos poucas informações. Viemos buscar informação para São José dos Campos, no interior de São Paulo”
Cadu Andrade
“Essa foi a primeira vez que participei do FIFE e o que me fez me deslocar até aqui foi o Marco Regulatório, porque ele veio para mostrar que precisamos ser cada dia mais profissionais, temos que ter serviços de qualidade. Ou seja, as entidades que não se profissionalizarem estarão fora do mercado daqui alguns anos. E aqui estou aprendendo um pouquinho mais sobre Legislação, Contabilidade, Gestão e Assistência Social”
Guilherme Marra
“O evento é muito bem organizado. Sinto que as atividades estão muito bem distribuídas. Esse foi o primeiro de muitos que virão, porque estou aprendendo muita coisa e vou levar para a minha instituição em Salvador”
Josevaldo Junior
“Eu venho todo ano porque o FIFE é um divisor de águas. O FIFE nos ajudou a ressignificar o nosso trabalho, conhecer novas pessoas, renovar processo de gestão, conquistar novos projetos e parcerias. O FIFE tem feito muito, muito mesmo pela nossa instituição”
Luiza Cordeiro
Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica - FIFE 2019
Quando: 9 a 12 de abril
Local: Centro de Convenções SulAmérica - Rio de Janeiro
Endereço: Avenida Paulo de Frontin, 1 - Cidade Nova - Centro
Inscrições: a partir de 5x de R$ 159,80
Mais informações: fife.org.br